Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte I
Parte I
O tempo passou, um ano depois, pensamentos e coração
ocupados. Naquela noite, o notebook é seu confidente e companheiro, uma taça de
vinho tinto a encorajava a escrever... O frio incomoda, o pensamento inquieto,
os sentimentos confusos. Um emaranhado de emoções, sensações e medos, de todos
os lados.
No início ele demonstrava todo seu desejo, os toques,
os abraços e os beijos roubados, _ como são doces os beijos
roubados. A maturidade lhe favorecia, um certo ar de mistério, um jeito
rústico de ser. Aquele homem que apesar de um coração solidário, hora ou outra
era ríspido, rude e indiferente, vivia um carrossel de emoções e desejos, que
provocava mudanças bruscas de humor. O mal humor era seu companheiro diário, a
insatisfação e o medo de declarar seus sentimentos, o levavam para sua caverna
impenetrável. Lá se mantinha acolhido e protegido de si mesmo.
Seu coração disparava, sentia um frio na barriga,
aquela emoção provocava arrepios, o abraço era longo e apertado, a respiração
ofegante demonstrava a emoção a flor da pele. Era uma
paixão, nunca haverá amor sem paixão, mas poderá haver paixão sem amor. O sentimento intenso, denso e arrebatador
não era esperado. Aquela ânsia, o desejo, a sensação de plenitude que sentia ao
olhar para ela, o deixava confuso, sentimentos complexos com quais ele não
sabia lidar, a ausência de controle era algo que o deixava sem rumo, frágil e
amedrontado.
Ela lembrava de alguns momentos que viveram nos últimos
meses. Como aquele homem tão casmurro podia ser, vez ou outra, tão disponível,
romântico e sensível às emoções? Por que ela nunca se permitiu viver aquele
sentimento? Era paixão versus amor? Ele estava apaixonado e ela o amava? Ele
repetira que havia uma tênue linha entre o amor e o ódio, sempre que ela dizia
que ele a odiava. Algumas vezes ele, entre brincadeiras de amigos, dizia que a
amava. Ela não acreditava.
Fitou a sala vazia, pensou em abandonar seu notebook e ir para
cama, o controle remoto da TV a fez passear entre o jogo do Corinthians e os
canais de música. Uma música chamou sua atenção, em algum momento eles ouviram
juntos aquela melodia. Um suspiro profundo como se fosse possível sentir o
cheiro dele. Fechou os olhos e foi capaz de avistar o rosto, os cabelos
grisalhos, a pele descuidada, o ar rustico, característica marcante. Ah! o
cheiro de mar na pele...
Ela
sai, no carro uma música a faz relembrar de alguns momentos intensos. A música:
Quem de nós dois, de Ana Carolina diz: “Eu e você, não é assim tão complicado,
não é difícil perceber, quem de nós dois vai dizer que é impossível, o amor
acontecer”. Ela sorri e pensa quem diria que eles se apaixonariam... A música continua: “se eu disser que já nem sinto nada, que a estrada
sem você é mais segura. Eu sei, você vai rir da minha cara, eu já conheço o teu
sorriso, leio o teu olhar. Teu sorriso é só disfarce e eu já nem preciso...
Sinto dizer que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar. Está ruim para disfarçar o
que eles sentem um pelo outro. Ele conhece muito dela, o que a incomoda. Ela
sabe muito bem quando ele tentar disfarçar, já sabe quando ele está de mal
humor e quanto ele fala com o olhar.
Nos
momentos seguintes ela
se delicia com suas lembranças daqueles momentos que viveram juntos. Ela lembra
dos dois, ela sentia frio e deixou seus pés embaixo das pernas dele enquanto
bisbilhotavam no computador. Depois de uma conversa com um e outro amigo, eles
se aproximam, os corpos estremecem, os olhos se cruzam, os rostos se tocam
suavemente, sentem a respiração um do outro.
As mãos entrelaçadas, os corpos se encostam e eles se
entregam ao desejo, os lábios se roçam suavemente, a boca entreaberta, um toque
suave, o beijo é ardente, intenso e provoca um desejo incontrolável. Eles
tentam resistir, de modo quase infantil, sem ao menos entenderem porque estavam
agindo assim...
A porta se fecha, um último olhar. Depois, uma mensagem
provocante e uma resposta de quem está embaraçado. No dia seguinte, apenas
conversas profissionais. Como se nada houvesse acontecido. Eles se encontravam
todos os dias, os beijos roubados se tornam uma marca da relação deles. Pouco
se importavam com os olhares dos outros, eles esqueciam que deviam ser
discretos. Mas o desejo era mais forte...
A essa altura, a taça de vinho já havia sido substituída por
uma big xícara de chá de hortelã. A madrugada apresentava filmes idiotas, as
músicas eram tediosas. Uma comédia, ela para e pensa em assistir, mas pensar
nele era mais interessante, ela continua escrevendo e navegando por seus
pensamentos e sentimentos...
O dia está amanhecendo e ela abstraída em seus devaneios...
Parte
II
O dia
amanheceu, ela está absorta em seus compromissos, entre muitas anotações e uma
agenda corrida, toma uma xícara de café
e pensa em seu amor. Ela ri sozinha ao lembrar do jeito atrapalhado e
desajeitado de seu amado. Como o amor pode aproximar duas pessoas tão
diferentes? Como duas pessoas tão diferentes podem ser
tão parecidas?
Para muitas pessoas eles eram
parecidos, enquanto ela achava que eram opostos. Ele identificava as
semelhanças que existiam entre eles, talvez sentia-se incomodado ao ver nela um
reflexo dele mesmo. Seria tão evidente o
sentimento que nutriam um pelo outro? Ela acreditava
que as pessoas próximas não percebiam os gestos, os cuidados, os beijos
roubados e as provocações que faziam, procurava tomar cuidado com o olhar,
sempre fugia do olhar dele. Tinha certeza que o olhar os denunciaria.
Muitas noites eles conversavam até
tarde, compartilhavam as angústias do dia, dividiam situações que vivenciavam
juntos, procuravam no outro as respostas para as dúvidas e o apoio para as
tomadas de decisões. Eram parceiros de trabalho, naquele momento. Dividiam
objetivos, propostas e ideais, eram cúmplices e enamorados. Quando ele estava
irritado e mal-humorado, ela era seu porto seguro, o jeito de falar o deixava
mais tranquilo, calmo. Talvez ela fosse capaz de
mostrar que a vida pode ser vivida com mais amor, menos cobrança e mais leveza.
O dia passa rapidamente, eles não se
encontram. O telefone dela toca. A voz do outro lado é irritadiça:
_ Onde você está? – Diz ele.
_ Na cidade. – Responde ela com certa
ironia.
Ele pede que ela o aguarde, precisa
conversar.
Ele chega, exausto e irritado. Despeja
sobre ela todas as angustias do dia e as irritações. Muitas coisas menores o
deixavam irritado. Ela se perguntava se era imaturidade, ou se ele estava tão
sensível que pequenos desencontros do dia a dia, causavam nele tamanha
instabilidade. Como sempre ocorria, ela o acalmou, mostrou novos ângulos para
os problemas trazidos. E horas depois eles riam dele e daqueles que o haviam
irritado tanto. Ela estava feliz, conseguia rapidamente faze-lo se acalmar, mas
não era sempre assim.
No início, quando ele se irritava ela
também se irritava. E eles discutiam ferrenhamente, desligavam o telefone
enquanto o outro falava, gritavam um com o outro, por pouco não se agrediam fisicamente.
Ela lembra de uma situação em que ele não queria que ela fizesse algo
corriqueiro, e para impedi-la de passar segurou-a pelo braço com tamanha força
que deixou uma marca. Ela se irritou e quase bateu nele, mas foi interrompida
por um amigo que perguntou rindo: _ vocês vão chegar as vias de fato? Devo ficar
aqui ou querem que eu saia?
Eles se olharam e riram.
Ela chega em sua casa, toma um banho
quente, a noite está fria. Prepara um delicioso caldo de legumes, pega uma taça
de vinho tinto e vai para sua sala. Seu fiel confidente, o notebook, já está a
sua espera. Ela busca um cobertor porque a noite está gelada. E começa a
escrever um pouco mais sobre a história deles:
“O
cenário era hipnotizante. O mar verde se encontrava com o azul do céu no horizonte
até onde o olhar não alcançara. A brisa que soprava do mar mantinha o ambiente
agradável e aconchegante. O barco de metal era imponente e altivo, mantinha-se
estático e envolvente, todos percebiam sua grandiosidade. Era um monumento que
representava o poder e se harmonizava com o meio onde se encontrava. Para
alguns uma evolução, para outros um marco negativo tingindo a beleza daquele
cenário estonteante.
O
fato é que o barco de metal, tinha em seu comando um capitão que há muito não
navegava por outros mares, mantinha-se aprisionado como seu barco. A rigidez do
metal, era a mesma do coração de seu capitão. O barco de metal trazia em sua
história disputas, lutas e vitórias. Construir um barco era algo inusitado e
fora um desafio.
O
barco estava desgastado pelo tempo que havia deixado muitas marcas em seu
casco. Na sala de comando, estava seu capitão, que acabara de tirar seu casaco,
e impaciente olhava para suas anotações e afazeres. Um passo no convés o fez
gelar, conhecia aquele caminhar. O sino logo
tocou obrigando-o a sair de seu esconderijo. Foi receber aquela visita
irritantemente esperada. Resmungava baixinho enquanto caminhava, não conseguia
entender porque ela era tão bem-humorada, como aquilo o intrigava. Para evitar
se desgastar mais uma vez, decidiu papaguear sem parar. Ela o observava
perguntando-se sobre tamanha agitação. Eles revezavam momentos de conversas
desconexas com silêncio absoluto, onde a troca de olhares dizia muito mais
sobre as emoções que invadiam aquele convés.
O
barco estava sempre desorganizado e ela rapidamente passava os olhos por sua
volta e se questionava se a bagunça no convés era a mesmo que ele tinha
internamente. Talvez aquele jeito desajeitado, representasse muito mais daquela
personalidade, possessiva. Algo naquele casmurro atraía amigos, parentes,
conhecidos e membros da sociedade, sua personalidade marcante talvez fosse o
decifrar desta proeza. Mas aquela casca grossa não a enganava, atrás daquela
imagem havia uma alma inquieta e um tanto infeliz.
Anos
após anos, o barco de metal despertava a atenção. Ele mesmo muitas vezes,
confundia-se com a data de inauguração de seu barco, que majestosamente rompera
aquele ambiente e se prendera àquele porto e lá ficara. Os dois andares,
imponentes abrigavam inúmeras cabines com espaço para muitos sonhos. Bem
verdade que alguns duravam pouco tempo, outros perseveravam e venciam.
_ quantos anos? Dez? – Perguntou ele em
voz alta.
_ Quinze anos. _ lembrou sua
interlocutora.
Ela
sabia muito bem quanto tempo aquele barco estava ali, já que sua chegada
provocara em sua vida grandes e marcantes mudanças, quase todas negativas. Como
ela esqueceria o tempo? Ele era um homem jovem, à época da chegada de seu barco
de metal, talvez mais viril e destemido que agora. E certamente não percebera o
impacto que seu barco causara na vizinhança.
Ele
advinha de uma família tradicional e nunca experimentara limitações e
dificuldades, talvez isso limitasse sua percepção. Apesar de manter um modo de
vida simples, gostava da boa mesa, não abria mão de uma cerveja de qualidade.
Viajava anualmente e gostava de bons espetáculos, festas e pequenas reuniões
com amigos escolhidos a dedo. Apesar da vida agitada, refugiava-se sempre em
sua sala secreta, que mandara fazer em seu barco de metal, estrategicamente
próximo da dispensa de alimentos, que o mantinha em seu eufórico ostracismo.
Ela
continuava ali, paralisada. Ele era muito rabugento sob o olhar dela. E tinha
tamanha dificuldade em lidar com quem o contrariava. Ela era uma prova disso.
Quantas vezes haviam discutido severamente, após ela discordar do ponto de
vista dele. Ele não admitia ser contestado, era atroz. A façanha era manter-se
na mais perfeita ordem, dentro de sua habitual desordem. Pequenas mudanças na
rota, causavam-lhe gigantescos dissabores.
Aquela
estrutura tão imponente e garbosa traduzia a robustez daquela alma, considerava
ela. Tinha ele motivo para estar tão agitado aquele dia. Algo incomodava aquele
homem frio e de alma controladora. Aquela nau era um sonho realizado, uma mudança
na rotina dele e na vida daqueles que a circundavam.
A
praia trazia uma nostalgia, por vezes. O mar o atraia e ele desfrutava das
sensações que a água salgada provocava em sua pele. Procurava levar um pouco do
mar consigo, sempre que precisava voltar-se para suas atividades cotidianas. Se
dependesse dele passaria mais tempo no mar.
A
praia, às vezes, parecia morta, sem vida. Alguém falava com ele, as palavras
murmuradas não eram ouvidas. Palavras ditas levadas pelo vento, sentimento
obscuro. Um pensamento deixou seu coração estático, o vento calou-se, a
natureza sem vida, os pássaros não cantavam e o mar não mais murmurava. Ele
sentou-se em frente à praia e ficou esperando que o mar lhe dissesse o que
fazer. Como sairia daquela tormenta?
Voltou
para sua nau, escondeu-se em sua sala secreta e de olhos fechados procurou
respostas para seus sentimentos. O pensamento voava, imaginou-se caminhando naquela imensidão de mãos dadas... Como alguém conseguira se infiltrar em sua
viagem sem pedir licença deixando seu mar revolto? O
coração em pedaços, cacos de emoção. Um passo em seu convés devolveu-lhe
instantaneamente à vida. Ele sorriu, como se os ventos úmidos do mar, soprassem
uma calmaria fazendo-o renascer.
As
velas altas e robustas do barco cortavam a beleza daquela praia. O sol brando,
reinava. Ele em sua solidão, calado. O inverno soprava, agosto amargo, em seu
coração a infatigável solidão era voraz. O barco estático representava o
magnifico sonho, que ele venerava. A realidade o fazia pressentir que o sonho
que hipnotizava sua alma, seu ser e seu desejo, apesar de leva-lo a momentos
poéticos, era uma ironia. No seu âmago ferve o desejo de sonhar e viver com ela
um inebriante sonho. Quantas vezes sua nau foi cenário de uma noite torrencial
de amor?
Seu
barco tinha um poder de encantar e ele sabia disso. Aquele imenso barco rasgava
as barreiras do tempo e do espaço, suas luzes rompiam a noite escura.
Euforicamente, integrava o sonho e a realidade. Um sonho irreal de um barco de
metal que não navegava por tempestades ou águas calmas.
Ao
navegar e desbravar novos mares, seu coração era traidor que anonimamente
encontrava pretextos para fantasiar novas façanhas. Ardilosamente, ele buscava
em seu emaranhado de sentimentos, encontrar um novo momento para atrair para
seus aposentos aquela que provocara esse desejo de romper novos mares.
Aquele
mar aberto, convidava sua velha nau para uma nova experiência. Uma sinfonia
invadiu-lhe a alma, em terra firme lembrou-se do estardalhaço que aquela
aventura promoveria em sua patética vida. Por muitos anos, manteve-se
amordaçado em sua cabine, como uma ostra grudada em uma pedra, que nem o mar
revolto era capaz de move-la. Assombrosamente, aquele imenso barco de metal não
fora suficiente para poupa-lo de tamanha angustia, seu coração transbordava de
emoção e tudo que ele desejava era aniquilar aquele sentimento que estava
impiedosamente devastando seu âmago.
Sua
inquietude foi quebrada por um de seus marujos.
_ Capitão? Pensei que já havia zarpado.
_ Sabe que gosto de apreciar o mar a
noite.
Ficou
ele a olhar o mar, vestido de seu jeito desarrumado, enquanto seu marujo saia
para não incomodar seus pensamentos. Ele dirigiu-se as escadas e desceu seus
degraus esperando encontrar em sua sala secreta algo que arrancasse bruscamente
aquele pensamento delirante. Queria dissipar aquela névoa que almejava seu
porto, gelando sua alma. Como era sorrateiro o tal amor? Ele que desdenhou da
paixão, dizendo-se impermeável ao sentimentalismo, agora sentia um espectro
plácido enredando sua vida. Potencialmente causando-lhe o desejo de morrer.
_ Queria beija-la. Até mesmo ama-la.
Continua
sua inspeção pelo convés. Percebe que o casco precisara de reparos, alguns
danos eram vigorosos. Passos na escada em direção a ele. A lua, escondida entre
nuvens, o vento frio e a névoa sobre o mar deixavam o cenário sombrio. As
madeiras da escada rangeram e o vento gélido soprou em seu pescoço,
provocando-lhe um tremor.
_ Estou aqui para resgatá-lo. – Ela
chega intimando.
_ Não preciso de resgate, estou muito
bem aqui. Deixe-me. – Diz ele agressivamente.
_ Sempre gentil, doce como fel. –
Responde ela sorrindo.
_ Estou angustiado e quero ficar só. –
Sentencia ele com uma voz triste.
_ Seja feita assim a sua vontade.
Ele
a leva até a saída, sendo extremamente desagradável, demonstrando toda sua
irritação e desconforto. Ela sabia que ele estava com medo, e de certa forma
divertia-se com isso.
_ Não precisa tanta irritação – disse
em tom amável e irônico. Vai permanecer
em sua masmorra?
_ Já estou irritado, você sabe me
deixar assim, com maestria. Vou. Permanecerei aqui.
Ela
beija-lhe suavemente os lábios, sorri e sai.
A
luz fraca sobre sua mesa, o deixa mais pálido. Percebeu que sua noite seria longa.
Aquele beijo faria parte de sua longa madrugada. Olhou para o céu tentando
encontrar a lua e as estrelas para que aquele momento fosse rapidamente
esquecido. Sentiu-se um covarde, queria tanto aquele beijo e deixou-a partir.
Uma música ao fundo o incomodou.
As
noites tinham seus mistérios, o outono apresentava seus encantos e ele estava
inquieto com seus pensamentos errantes. Ele olhou para
o céu nublado e pensou no beijo que ele tanto queria e que por medo deixou
escapar.
Há
anos atrás, ele era um homem forte, tipo atlético que provocava reações nas
mulheres de corpos dourados que se banhavam naquelas praias. A praia em que
mantinha seu barco ancorado, outrora tinha sido muito bem frequentada pela alta
sociedade paulistana. Ele era um jovem de corpo dourado, cabelos cacheados que
estavam sempre desarrumados, vestido com uma bermuda e chinelos, sem camiseta
para mostrar seu corpo bem definido e sempre queimado de sol. Doces lembranças
aquelas.
Fechou
o casaco e olhou para o convés de seu barco de metal.
_ O mar está aqui tão perto e meu barco
não pode navegar. Eu a desejo tanto e não posso avançar...
Ele
parou, na porta de seu escritório, ouviu a música ao longe. Estava muito
perturbado com as suas emoções. Olhou-se no espelho de meio corpo que mantinha
ali, muitas vezes se perguntou o que fazia aquele espelho em seu escritório,
olhou-se e ajustou seu casaco. Sua mesa estava repleta de documentos que
precisavam ser despachados. Ele não conseguia se concentrar. Pensou em ligar
para ela, encontrar uma desculpa e fazê-la voltar. Faria ele um papel ridículo?
E se ela não voltar? _ pensou.
O
medo o fez paralisar.
No
dia seguinte, ele foi para o mar onde se sentia livre e leve. Do mar olhou sua
nau que não podia mover-se, mas demonstrava seu poder, já fora branca agora
estava desgastada, as velas estavam comprometidas e ele estava procurando
coragem para se entregar àquele amor”.
Ela
termina a taça de vinho, o sono chegara.... Um doce de abóbora para completar o
jantar. Fica em seu sofá sentada, olhando os inúmeros canais da TV por
assinatura, nada a agrada. Ela faz um chá de erva doce, para aquecer o corpo e
a alma. Fica pensativa, está com saudades de seu amor. Nos últimos dias ele anda
arredio e ela sem paciência, nesses momentos o melhor é o afastamento. Ela lê
um pouco da história deles, pensa que ao escrever os sentimentos passam a
pertencer aos personagens, será que no fim o amor não mais pertencerá a eles?
Parte
III
_
O amor, às vezes, nos toma de sobressalto, pensou ela.
Ela
que demorou tanto tempo para perceber que estava amando aquele homem forte, de olhar
frio, mimado e com tamanha dificuldade de assimilar opiniões diferentes da
dele. Um homem tão distante do modelo que ela admirava, sem estilo, desajeitado
e que não se permitia vivenciar algo novo, que o tirasse da zona de conforto. Não
costumava arriscar, ousar ou se permitir ir além daquilo que tinha desenhado.
Seguia seus rituais ficando extremamente irritado quando precisava fazer
qualquer mudança no seu dia a dia.
O
tempo de convivência trouxe alguns conflitos. Algo existia além da natural
implicância. Na verdade, o que poderia haver entre duas pessoas tão identicamente
diferentes? As semelhanças terminavam na teimosia e no
mal humor. Algo intrigante em alguém
tão resmungão, que se deixa influenciar por ações externas. Uma pessoa tão confusamente envolvente e atraente, apesar
de estar fora de qualquer padrão de beleza. Tão frágil emocionalmente que
não consegue dominar suas emoções. Por mais que seu jeito desarrumado e
desajeitado demonstrasse uma certa irreverência, ele era um homem a moda
antiga, cheio de regras e de conceitos preconcebidos.
Essa
descrição demonstra o quão ambíguo é esse homem. E ela que sempre admirou homens
mais velhos e centrados, se via agora completamente envolvida por aquela pessoa
de personalidade controladora, rabugento e irritantemente agitado. Como ele
despertou um sentimento tão intenso?
O
amor chega devagar, não faz alarde. A paixão é fogo, arde, desperta um desejo
incontrolável. Ela se deu conta do
quanto estava envolvida numa sessão de terapia. Resistiu bravamente àquele
sentimento, mas o tempo fora implacável e a fez perceber que era o amor mais
genuíno que já sentira. E decidiu se entregar. Ele continuava apaixonado e
agora resistia, temia se entregar e sair da zona de conforto. Vivenciar algo
novo, àquela altura de sua vida, era impensável para ele.
Ela
percebe que o que sente por aquele ser tão apaixonante, é um amor tão forte,
que não imaginava mais ser capaz de sentir. Não porque desacreditava do amor,
mas porque não se sentia capaz de amar com tanta intensidade. Já havia amado
antes, acabara uma relação recentemente, nada parecido com o que sentia agora. O
medo de viver aquele amor, era paralisante. Os dois se procuravam, se desejavam
e sentiam o mesmo medo. O amor é capaz de romper o medo?
Ela
para, respira profundamente e sente como ele está presente mesmo estando
distante. Ela se volta para a história dos dois, relembra de muitos momentos
que eles viveram juntos, relembra de algumas discussões e enfatiza alguns
aspectos da personalidade dele, tentando entender se esse amor tem alguma
chance.
“Os
olhos pequenos e um olhar apertado, refletiam muito dele. Talvez essa
característica física, já demonstrava o quão fechado e reservado ele era. Os cabelos desarrumados, a pele bronzeada e o
corpo esguio, com a barba por fazer e a fisionomia sisuda provocavam o desejo
de manter a distância, a luz da sensatez, ninguém se aproximaria daquele que
sempre demonstrava tamanho azedume. O fato é que alguém com tantas amarras cria
barreiras intransponíveis para quem deseja se aproximar. Seria ele assim quando
jovem? O que ocorrera ao longo dos anos, para que ele se tornasse tão frio e
inflexível?
Ele era capaz de uma
reação brusca e rude e no momento seguinte, permitia-se um contato mais íntimo,
um abraço, um beijo ou dois. Como se não pudesse ou não quisesse se deixar
levar... para o outro, algo intrigante, que deixava uma dúvida. Será que algum
dia ele avançaria? Talvez não. O tempo da sedução havia passado. Deixou um doce
amargo, um desejo adormecido, um bem querer que não faz sentido. Uma vontade de
estar próximo não atendida. Ele fora tão meigo, próximo, envolvente e
repentinamente se fez tão distante, indiferente e inconstante. Seria o fim?
Quem é esse casmurro?
Um homem incapaz de se apaixonar, que não acredita que o amor possa ser vivido
após uma certa idade. Para quem se envolver sentimentalmente é patético,
ridículo e infantil. Como se o amor fosse algo matematicamente exato. O amor é
inquietante, quente e desatinado. Não há exatidão no amor. O que não significa
ser infantil, tolo, inconsequente ou ingênuo. Ele pode ser genuíno, verdadeiro,
consciente, responsável, um bem querer que se alimenta da felicidade do outro,
mesmo que não seja ao lado de quem se ama. Amor é um sentimento intenso, que
alimenta e acalenta a alma de quem sente, independentemente de ser
correspondido. Amor não é posse, é querer bem. Amor é querer a felicidade do
outro, amor é sentir, desejar, sorrir, viver sem cobranças, sem limites, sem
amarras. Visto assim, o amor é algo inconcebível para esse doce casmurro.
Um falso bilhete dizia:
_ faz tempo que estou
de olho em você.
O dublo sentido daquela fala e tantas outras não fora entendida, perdeu-se o time. Talvez, a rigidez fosse algo que os aproximava. E a falta de atitude, de decisão e coragem fizera o implacável tempo definir que o sentimento ficaria restrito a ser intensamente vivenciado nos desejos ocultos, sem que fosse realmente vivido.
O dublo sentido daquela fala e tantas outras não fora entendida, perdeu-se o time. Talvez, a rigidez fosse algo que os aproximava. E a falta de atitude, de decisão e coragem fizera o implacável tempo definir que o sentimento ficaria restrito a ser intensamente vivenciado nos desejos ocultos, sem que fosse realmente vivido.
Irritantemente,
despertava o desejo de matar e o ódio.
_ O amor e o ódio estão
sempre lado a lado. Se misturam. – Dizia ele.
Vez ou outra, era essa
a fala capaz de enrubescer e provocar um olhar repleto de sentimento e
desejo... A indecisão estava acima da compreensão, perturbadora e inquietante,
determinava o fracasso daquele sentimento equivocado. Nem sempre terminava uma
frase ou concluía algo. Terrivelmente maçante, sentir um corpo vibrando e uma
obrigação de deixar gostosamente de vivenciar aquele momento intenso e tenso.
Um sorriso quando questionado sobre seu potencial. Uma testa enrugada e uma
graça para evitar o assunto, quase sempre frustrante mesmo para alguém que não
cria expectativas. Impossível não criar uma expectativa após um beijo. Arriscar
alguma pergunta a esse respeito? Certamente calar-se-ia. Curioso é que nunca
ouve uma única troca de palavras sobre os beijos, os abraços ou os olhares
trocados.
Um certo desconforto
paira naquele olhar. A barba grisalha mostra a passagem do tempo e as marcas
naquele rosto demonstram a rigidez da alma que ali habita.
_vamos curtir a noite?
– Disse ele, convidando para uma bebida.
A falta de uma resposta
arrojada silenciou o desejo.
_ O que aconteceu?
A
história clássica de um querer não correspondido... tudo e nada!
Apesar de ter viajado
por alguns lugares do mundo, vivia na sua caverna. Levava sua caverna para
todos os lugares. Sentia-se protegido dentro de sua caverna, que o mantinha
distante do mundo voraz, dos sentimentos intensos e das tomadas de decisões.
Tão acolhedora sua caverna, onde podia refastelar-se no silêncio de seus
pensamentos inquietantes.
Ao sair da sua caverna
levava consigo a bolha que o mantinha distante do mundo que passava veloz a sua
frente. Ele não queria se expor, correr riscos, mas devia. Só correndo riscos
podemos encontrar a felicidade e quando arriscamos e não temos êxito
encontramos a sabedoria. Quase sempre
optava pela estupidez para se manter distante dos riscos. Assim sua bolha o
protegia.
A
dura casca do casmurro ser... Algo, em algum momento enrijeceu aquela alma,
tornando-a fria e imaleável. No fundo daquele olhar parecia existir uma dor,
uma certa insatisfação, talvez algum sonho do qual abrira mão... talvez uma
busca por uma felicidade que ele mesmo não acreditava existir. Quase sempre a
irritação era sua maior e melhor companheira. A bolha, a caverna e a casca dura
do casmurro são intransponíveis...
O que importa é a luz e
a alegria que cada um de nós consegue fazer brilhar em si mesmo... arrisque-se
mais... dizer isso para alguém tão rabugento soa como um desaforo. É muito
curioso o quanto esse casmurro se escondia em sua bolha... Apesar de ter sua
caverna invadida por outras pessoas, só permanecia ali aquelas que não
representavam ameaça, que na avaliação dele jamais o compreenderiam.
Parece
mais certo afirmar que são duas pessoas diferentemente idênticas. Uma diferença
é a vontade de arriscar-se, sem medo e sem pré-conceitos. Na verdade, os dois
sentiam um certo medo do outro. Talvez explicasse a rigidez dos corpos, na
troca de um abraço. Já no campo intelectual as semelhanças eram muitas, tinham
percepções e avaliações parecidas. Uma frieza na análise dos fatos, um olhar
distante para situações que causariam temor em alguns. Para assumir
responsabilidades e riscos profissionais eles se assemelhavam, eram quase destemidos,
ousados e se permitiam, eram duros no embate.
Quando
discordavam dos fatos, a discussão era voraz. Poucos tinham coragem de tomar
partido quando os dois defendiam seus pontos de vista. Era mais cômodo assistir
a distância e aguardar o resultado final, que nem sempre tinha um vitorioso. A
irritação, muitas vezes, dominava a cena, para os expectadores era pura emoção.
Um sabia da importância do outro para que o sucesso acontecesse, mas a
necessidade de espezinhar era maior que a vontade de alcançar os resultados.
Nunca comprometiam o projeto, só tornavam mais emocionante cada etapa.
Às
vezes, a agressividade dava lugar a um gesto de amizade, raramente, de carinho.
Só não durava muito tempo, no momento seguinte a disputa por espaço e liderança
predominava. Eles se digladiavam até um sucumbir ao poder do outro. Sempre
demarcando território e disputando espaço, não porque queriam aparecer mais ou
ser mais importante que o outro, queriam apenas dominar um ao outro. Fosse no
território profissional, pessoal ou sentimental, queriam dominar a relação”.
Ela
toma seu chá, imaginando o que teria acontecido se ela fosse mais ousada, menos
insegura e tivesse se permitido mais... teria ele continuado com suas
investidas?
Parte IV
O dia passa rápido, uma agenda agitada a deixa sem tempo
para pensar naquela pessoa que tem provocado grandes mudanças no modo dela ver
a vida. Um amor que bagunça e tira tudo do lugar, acaba com as crenças, quebra
os conceitos e provoca reações inesperadas. Ela chega em casa, toma um banho e
vai para cozinha, prepara um creme de mandioca e vai encontrar seu grande
parceiro e atual confidente, o notebook.
Ela busca seu sofá, um cobertor, um chá quente. Uma noite
chuvosa e de temperatura baixa. Ela se pergunta o que ele diria se estivesse
lendo sua história, estaria incomodado?
_ Claro, ele estaria irritado, como sempre. – Ela ri.
Passeia pelos canais
da tv, assiste uma série que ela adora, lembra que ele também. Ela pensa em
como ele está e o que estaria fazendo. Sente que mesmo passando dias sem
encontra-lo o sentimento não muda, ela bem que tentou acabar com aquele amor,
mas não consegue deixar de amar... Com o notebook no colo começa a contar um
pouco daquela história.
Os cabelos grisalhos e a pele descuidada denotavam a idade,
ele já havia passado dos 50 anos, estava mais próximo dos 60 anos. E a robustez
com que encarava a vida demonstrava o quanto ele era antiquado. Tudo nele era
ambíguo, tão liberal para algumas coisas e tão retrógado para outras. Uma alma
inquieta, um humor inconstante e uma personalidade marcante e, por vezes,
sombria. Ela lembra de um personagem de desenho animado, que dizia “Oh céus! Oh
vida! Oh azar! Isso não vai dar certo”, era uma boa referência para
personalidade dele.
A vida pesava sobre seus ombros. Ele tinha uma amargura no
olhar, como se algo o fizesse ver a vida com certa reserva. Tinha pequenos rompantes
de alegria, mas logo se fechava em sua casca e se trancava em sua caverna. Quando
estava irritado, se percebia pelo andar, o passo firme, acelerado e a
respiração ofegante alertavam: mantenha uma distância segura. Ele era
extremamente grosseiro e rude quando estava de mal humor, e como quase sempre
estava nesse estágio, o excepcional era encontrá-lo bem-humorado e dócil.
Do outro lado, estava ela com seu bom humor. É bem verdade,
que ele conseguira provocar momentos de irritabilidade, deixando-a nervosa e
impaciente, algo raro. Ela se questionava do poder que dava aquele homem tão
cheio de regras. _ Por que ele me tira do eixo com tanta facilidade?
Ela procura entender mais daquela personalidade tão
deliciosamente intrigante. Raramente ele contava um pouco de sua história,
quando isso acontecia ela procurava entender o que se desenhava nas entrelinhas.
Como uma pessoa com olhar tão frio e tanta dificuldade de lhe dar com os
próprios sentimentos, pode provocar no outro tanto amor”?
O telefone toca, tirando-a de traz da tela do seu notebook.
A vida real a chama de volta e surpreende, a inconfundível voz rude, está
serena e doce. Ela sente um frio na barriga, o coração bate descompassado, fica
ansiosa. Ele diz que precisam conversar e sugere um jantar, ela aceita e fica
intrigada com a motivação.
Um convite, sem maiores explicações, sem dizer o assunto?
Enquanto escolhe um look que seja
discreto e sedutor, tenta entender o que motivou aquele convite. Ela
escolhe um vestido de seda, uma bela sandália vermelha, maquiagem suave, quer
se sentir sedutora.
_ Preciso de uma bolsa que caiba um pouco de suas emoções e
expectativas. Ah, expectativas! – Ela sorri enquanto se olha no espelho.
Ela tem como mantra
não criar expectativas sobre nada em sua vida. Ela diz que criar expectativas é
um grande risco de sofrimento, quando você entra em uma situação sem
expectativas, a chance de se surpreender positivamente é muito maior.
Ao encontra-lo, o beijo roubado e um abraço demorado, outro
beijo roubado. Parece que a noite será emocionante. A sensação que ela tem é
que ele será mais objetivo, sairá da zona de conforto, talvez se mostre um pouco
mais e se permita sentir. A conversa é interessante, ele se mostra mais amável
e conta coisas intimas de sua vida, demonstrando que atrás daquela figura fria
e languida, tem um coração que sente e uma dor que deixa uma nuvem cinza sobre
ele. Algo mais, tem atrás daquela casca dura e quase intransponível, que
momentaneamente se abre e deixa transparecer fragmentos de alguém apaixonado.
Ele toca as mãos dela suavemente e a olha fixamente. Ela
sente um arrepio percorrer todo seu corpo, por um instante pensa que seria
melhor estar refugiada atrás da tela de seu computador, apenas criando essa
cena, do que estar ali. Como ela que tanto desejou viver aquele momento, estava
tão estranhamente incomodada e com tanto medo? Ela respira profundamente e se
concentra na conversa, conta um pouco de sua história, se expõe contando fatos
que sempre manteve oculto. Eles mostram um outro lado, como se estivessem
fazendo um pacto, mostrando um pouco de sua intimidade para o outro.
O jantar termina, na despedida, outro beijo roubado. E a
certeza dela de que ele avançaria, fica no beijo roubado. Ela entra em seu
carro e segue seu caminho, pensando até quando vai controlar aquele desejo tão
ardente que sente por ele.
Ele vai embora pensando como pode ter sido tão covarde, ter
deixado mais uma oportunidade única passar... Ele a deseja tanto e sempre fica travado,
amedrontado e inseguro.
_ Inseguro mesmo... Pensou ele.
Ao chegar em casa, ela não resiste a uma deliciosa caixa de
chocolate, 70% cacau, é claro. E se aninha em seu sofá, pega seu notebook e vai
escrever sobre os dois.
Ela começa pensando no amor que sente, no quanto é
angustiante aquela indecisão dele. O que o deixa preso naquela caverna que ela não
consegue adentrar?
Parte V
O dia promete, eles devem passar o dia todo juntos, muitos compromissos profissionais. Ela está segura, parece mais decidida. Ele chega do mesmo jeito de sempre, irritadiço. É tão cedo e ele já está no mal humor de todos os dias. Ela pensa como será o dia com ele tão irritado. Tenta abstrair o incomodo, percebe que não será nada fácil e que seus planos podem ir por água a baixo.
“Clara, acorda decidida a tomar as rédeas daquela história.
_ Só você pode dar cor nessa história morna e que está em
preto e branco. Coragem! – Diz olhando no espelho.
Clara se veste lindamente, usa uma bela calça flare preta,
camisa branca e um lindo colar vermelho, sapato de salto alto e uma maquiagem
leve, sempre usa batom natural.
_ Clara, Clara esse batom é uma tática para não deixar
evidente os beijos roubados... – Pensa em voz alta enquanto termina a
maquiagem.
Quando ela percebe que ele está chegando, seu coração
dispara, sente um frio na barriga, o sangue parece gelar. A sensação é desconfortável
e deliciosamente apavorante. Tenta disfarçar sua ansiedade e anular seu corpo
que insiste em estremecer.
Ele entra na sala e a fita ao longe,
Clara se mantem distante, ao menos aos olhos dele.
_ Bom dia! – Fala com
um tom severo
_ Bom dia! –
Responde Clara sem tirar os olhos do computador.
_Você não vai nem olhar
para me cumprimentar? O computador é mais interessante ou é pura falta de
educação mesmo?
_ As duas coisas.
Você chega despejando gentileza e espera ser recebido com beijos.
_ Exatamente! _ diz
ele enquanto se dirige até ela.
Ele se abaixa e
rouba-lhe um beijo. Ela olha para ele e sorri timidamente.
Ela levanta e o abraça
carinhosamente, ele corresponde ao abraço e os dois se beijam ardentemente. Se
olham e com toda cumplicidade exigida para o momento, Clara pega sua bolsa e os
dois saem juntos, decidem viver aquele momento, se entregar a paixão. Entram no
carro e vão para casa dela. O desejo é tanto que começam a se beijar ainda no
carro, entram derrubando os bibelôs da mesa de centro da sala. Se jogam no sofá, as peças de roupas começam a cair pelo
chão. A cada movimento os dois se olham intensamente e se beijam
ardentemente.
Clara percorre com as mãos as costas dele, sente o gosto de
mar que a pele dele trás. Beija lentamente a nuca, escorrega os lábios vagarosamente
até a orelha, dá um beijo suave, encosta o corpo que está ardente de desejo,
nas costas dele, a respiração é ofegante.
Ele se vira para ela, tira a camiseta lentamente e a envolve
em seus braços, a beija. Os lábios macios dela o deixam em transe, ela toca os
lábios dele com a língua. Ele corresponde, passando a língua pelos lábios dela,
a boca entreaberta espera que ela o beije. Uma mordida suave no canto dos
lábios dele, provoca um sussurro. As mãos entrelaçadas se apertam e o olhos
estão com um brilho apaixonante.
Clara abre lentamente
a camisa, mostrando seu corpo, ele se deleita com cada botão que vê sendo
aberto. Ela tem um olhar desejoso e tímido. Ele a traz
para junto de seu corpo, e lentamente retira a camisa, o cheiro doce do perfume
dela, o deixa embriagado de prazer. Ele a beija lentamente e percorre com
os lábios o rosto e o pescoço dela, provocando ainda mais desejo. Desce lentamente,
os lábios pelos ombros e vai percorrendo o corpo, beijando-a suavemente,
arrancando-lhe arrepios e reações que a fazem estremecer. Os corpos
entrelaçados, seminus se encaixam perfeitamente. Ela passa o pé pela perna dele
enquanto ele retira o cabelo dela do rosto e a olha fixamente.
O olhar deixa o desejo pujante e os beijos mais ardentes,
eles vão para o quarto, os sapatos ficam pelo caminho. Ela abre lentamente o zíper
da calça e a deixa cair, a lingerie preta o deixa mais encantado, ela se aninha
na cama, como um felina e ele não perde um único gesto dela. Os corpos se
tocam, as mãos se procuram, ele retira toda a roupa de Clara, e passeia pelo
corpo sentindo o cheiro doce daquela pele macia.
Ela o acarinha
maliciosamente, os dois se entregam ao prazer. Os corpos se movimentam
bruscamente, lentamente, intensamente, delicadamente, com toda energia e força.
E quando ela foge dele, ele a pega como um leão buscando sua presa e depois a
solta para ver a reação, ela é a felina e ele a presa. O
jogo de poder que acontece entre eles, se faz presente na cama.
Ele entra na sala e a fita ao longe, Clara se mantem distante, ao menos aos olhos dele, que se abaixa e rouba-lhe um beijo. Ela olha e sorri timidamente. O silêncio que só eles ouviam é rompido pelos compromissos do dia. Clara fecha seu computador, deixando nas páginas os sonhos que espera viver com ele.
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Claudia Paschoal
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