Ernesto chega a Verdes Mares,
cidade vizinha a Alegre. Encontra sua antiga parceira, os dois conversam e ele
sai mais aliviado e otimista, conseguiu uma aliada para sua batalha com
Augusto. Eles almoçam juntos e Ernesto parte para Alegre, onde é aguardado. Uma
reunião a portas fechadas com Augusto e mais um problema para resolver. Ele
conseguiu aplacar a situação acordando que recuaria no momento oportuno, e
tiraria o seu pré-candidato da disputa. Muitas vezes é preciso cortar na
própria carne, o desafio agora é convencer seu pupilo de que não é o momento
para se candidatar, ele jamais poderia saber que foi parte de um acordo com
Augusto, seria devastador e Ernesto o perderia. O momento exigia destreza e
qualquer perda seria inadmissível.
Na volta para capital, Ernesto é
informado que Gilberto agendou uma reunião para manhã do dia seguinte com todo
seu staff e que a crise na segurança pública e as denuncias estavam na pauta.
Tratou de ligar para seus assessores de imprensa e jurídico e marcou uma
reunião para noite, precisava estabelecer uma estratégia para se defender das
acusações infundadas que estava sofrendo. Ligou para o Secretário de Segurança
Pública para sentir se a reunião tinha surtido efeito.
Em Alegre, Augusto se encontra
com Marcelo, Samuel e Fabrício para uma reunião de urgência, precisava
participar seus apadrinhados de que o jogo seria pesado e esclarecer que não
deviam criticar ou se posicionar no caso do
anuncio do pré candidato apoiado por Ernesto.
_
Não me façam perguntas, apenas façam o que estou mandando.
Fabrício, que em tese seria o
mais prejudicado, questiona se algo será feito para reverter o caso. Augusto se
irrita e deixa claro que não é para tomar partido de nada, o momento é de
silenciar. Estrategicamente, o momento é de recuar para contra-atacar, tem que
se ter muita calma, a derrota momentânea garantirá a vitória final.
Marcelo demonstra todo o seu
descontentamento, não gosta de recuar nunca. Samuel é mais inexperiente e
prefere ficar na zona de conforto, tem muito receio em se posicionar e escolher
o lado errado. Antes de tomar qualquer decisão, se reporta a um assessor que o
orienta sobre como se posicionar numa ou noutra situação.
Augusto estava sofrendo pressão
de todos os lados, a oposição estava revirando as gavetas dele para encontrar
algo que pudesse incriminá-lo. Seu perfil não agradava a todos, muito embora
fosse um político capaz de aglutinar apoio, tinha aqueles que o odiavam pelo seu
jeito autoritário e agressivo. A vida pessoal de Augusto o deixava exposto, ele
sempre gostou de bebidas e, às vezes, utilizava outras substâncias para manter
a excitação. E as conseqüências eram sempre devastadoras, se expunha
publicamente e a oposição não perdoava.
Naquele momento, ele precisava
agradar a oposição, para minimizar os estragos que uma festa ocorrida no fim de
semana em seu apartamento, tinha lhe causado. As fotos que estavam nas mãos dos
vereadores da oposição eram altamente comprometedoras. E as exigências feitas
pelos opositores eram surreal. Ele não tinha muitas opções, tinha que sentar
para negociar.
Negociar não era problema. Sempre
foi bom negociador, era um empresário respeitado e que atuava em vários ramos.
Agora, engolir os risos e as alfinetadas dos vereadores quanto a sua performance depois de uma noite de pura
farra, era algo que ele não sabia administrar. A pressão era grande e ter que
negociar com quem estava tentando levar vantagem de uma situação da vida
privada, era o mesmo que ter que engolir uma espada, cortava na alma.
A mesa de negociações foi aberta,
os ânimos estavam exaltados. Todos se sentiam no direito de fazer solicitações
das mais variadas, de cargos até prestações de serviços públicos e indicações
para parentes. Augusto perdeu a paciência, jogou as cartas para o alto.
_
Se vocês querem me ferrar, me ferrem. Não vou negociar com ninguém. Estão
pensando o que? Que vão chegar aqui e me chantagear assim? Estão loucos?
Os nobres edis não esperavam por
aquela reação. Ficaram atônitos, todos se olhavam como se não acreditassem na
reação dele. Eles não sabiam como reagir àquela atitude, não tinham um plano B.
A decisão foi sair e estabelecer uma nova estratégia.
_
Querem negociar? Vamos fazer isto abertamente, em público, querem? Esbravejava
Augusto.
Ele tinha consciência do que
estava falando, sabia que seria impossível e os vereadores também. Naquele
momento era a única coisa que ocorria para que ele ganhasse tempo e pudesse
chamar para uma negociação individual, o
que deixaria a conta muito menor. Ele sabia que uma conversa reservada poderia
até ser lucrativa, já que também tinha algumas informações sobre um ou outro
vereador. Claro que não colocaria estas informações na mesa com todos juntos,
agora numa conversa reservada, cada um mostra seu poder de fogo.
Logo que deu por encerrada a
reunião e os vereadores saíram, o primeiro se apressou em ligar. Ele comemorou,
estava certo. Atendeu e decidiu que só atenderia dois dias depois. Agendou e
ficou aguardando o próximo telefonema. Como esperado, todos ligaram e as
agendas foram feitas. Alguns tinham pretensões futuras e ele sabia muito bem
barganhar com eles neste campo. Ter o apoio dele para as próximas eleições era
muito importante para quem pretendia se reeleger ou se candidatar a
vice-prefeito.
A noite chegou e ele foi para
casa, aliviado. No caminho, decidiu ligar para alguém com quem tinha uma relação especial.
_
Tá onde?
_
Em casa. Diz a voz do outro lado.
_
Vem pra cá, estou precisando conversar com você.
_
Hoje não posso.
_
Por quê?
_
Depois te falo.
_
Preciso muito conversar com você, meu dia foi péssimo. Começou com uma reunião horrível
e terminou pior ainda. Vem pra cá, estou pedindo.
_
Não tenho como. Vem você...
_
Não pode vir aqui e eu posso ir até ai?
_
Pode.
_
Vou passar no apartamento deixar umas coisas e vou. Você vence sempre.
_
Estarei te esperando.
Augusto segue para seu
apartamento, guarda alguns documentos em seu cofre particular. E pega uma caixa com um belo anel. Ele estava
decidido a presentear sua querida amiga. Já tinham uma relação de muitos anos e
acreditava que o momento era para dar um passo mais sério. Só uma coisa
incomodava Augusto, a sua querida amiga tinha uma proximidade com um desafeto político,
mas ele acreditava que podia resolver facilmente isto.
Na capital, Ernesto se encontra
com seus assessores em seu apartamento. Paulo apresenta uma matéria que soltaria
na imprensa com as explicações de Ernesto para os assuntos que estão sendo
explorados pela oposição. O jurídico traz boas e más notícias, deixando-o mais
tenso. Sabe que a reunião da manhã seguinte será tensa e que Gilberto não irá
tolerar falhas. Quando termina a reunião, uma ligação.
_
Tudo bem? Pensou no meu pedido?
Ele ouve o que esperava. Seu
pedido estava sendo atendido. Motivo para comemorar.
_
Se estivesse aqui tomaríamos juntos um bom vinho.
Ele desliga e pensa que tudo
poderia ser diferente se ele tivesse investido mais naquela relação. Só que o
tempo passou e tudo ficou para trás.
Na manhã seguinte, a reunião com
Gilberto é muito tensa. Todos são cobrados e novas metas são estabelecidas,
alguns erros são inaceitáveis e Ernesto é cobrado. Ele se sente na berlinda,
segura a ira e leva a reunião até o fim. As noticias de sua interferência na
Secretaria de Segurança Pública foram positivas. O Secretário da pasta trouxe
boas notícias, os ânimos estavam mais calmos, agora as propostas precisavam ser
colocadas em prática. Gilberto parabeniza Ernesto, que respira aliviado, esta
demonstração de confiança é muito importante para que todos saibam que a
relação entre eles está preservada.
O momento era de negociação, as eleições
municipais estavam próximas. Ernesto tinha muitos municípios para administrar e
um problema para resolver, retirar a candidatura de seu pupilo como prometeu
para Augusto.
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