Amores
possíveis, paixões impossíveis
Parte I
Parte I
04
de abril de 2016
(Primeiro
Capítulo de Clara e Gum)
Um
dia os olhares se cruzaram, em meio a tantas pessoas, ele chamou atenção,
apesar do jeito desajeitado, desarrumado e mal-humorado. Como alguém tão
desenxabido podia despertar atenção? Outros encontros ocorreram anos
antes, ele não tinha nenhum registro, o que a deixava confortável, com certa
vantagem.
O
tempo passou, um ano depois, pensamentos e coração ocupados. Naquela noite, o
notebook é seu confidente e companheiro, uma taça de vinho tinto a encorajava a
escrever... O frio incomoda, o pensamento inquieto, os sentimentos confusos. Um
emaranhado de emoções, sensações e medos, de todos os lados.
No
início ele demonstrava todo seu desejo, os toques, os abraços e os beijos
roubados, _ como são doces os beijos roubados. A maturidade lhe favorecia, um
certo ar de mistério, um jeito rústico de ser. Aquele homem que apesar de um
coração solidário, hora ou outra era ríspido, rude e indiferente, vivia um
carrossel de emoções e desejos, que provocava mudanças bruscas de humor. O mal
humor era seu companheiro diário, a insatisfação e o medo de declarar seus
sentimentos, o levavam para sua caverna impenetrável. Lá se mantinha acolhido e
protegido de si mesmo.
Seu
coração disparava, sentia um frio na barriga, aquela emoção provocava arrepios,
o abraço era longo e apertado, a respiração ofegante demonstrava a emoção a
flor da pele. Era uma paixão, nunca haverá amor sem paixão, mas poderá haver
paixão sem amor. O sentimento intenso, denso e arrebatador não era esperado.
Aquela ânsia, o desejo, a sensação de plenitude que sentia ao olhar para ela, o
deixava confuso, sentimentos complexos com quais ele não sabia lidar, a
ausência de controle era algo que o deixava sem rumo, frágil e amedrontado.
Ela
lembrava de alguns momentos que viveram nos últimos meses. Como aquele homem
tão casmurro podia ser, vez ou outra, tão disponível, romântico e sensível às
emoções? Por que ela nunca se permitiu viver aquele sentimento? Era paixão
versus amor? Ele estava apaixonado e ela o amava? Ele repetira que havia uma
tênue linha entre o amor e o ódio, sempre que ela dizia que ele a odiava.
Algumas vezes ele, entre brincadeiras de amigos, dizia que a amava. Ela não
acreditava.
Fitou
a sala vazia, pensou em abandonar seu notebook e ir para cama, o controle
remoto da TV a fez passear entre o jogo do Corinthians e os canais de música.
Uma música chamou sua atenção, em algum momento eles ouviram juntos aquela
melodia. Um suspiro profundo como se fosse possível sentir o cheiro dele.
Fechou os olhos e foi capaz de avistar o rosto, os cabelos grisalhos, a pele
descuidada, o ar rustico, característica marcante. Ah! O cheiro de mar na
pele...
Ela
sai, no carro uma música a faz relembrar de alguns momentos intensos. A música:
Quem de nós dois, de Ana Carolina diz: “Eu e você, não é assim tão complicado,
não é difícil perceber, quem de nós dois vai dizer que é impossível, o amor
acontecer”. Ela sorri e pensa quem diria que eles se apaixonariam... A
música continua: “se eu disser que já nem sinto nada, que a estrada sem
você é mais segura. Eu sei, você vai rir da minha cara, eu já conheço o teu
sorriso, leio o teu olhar. Teu sorriso é só disfarce e eu já nem preciso...
Sinto dizer que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar. Está ruim para disfarçar o
que eles sentem um pelo outro. Ele conhece muito dela, o que a incomoda. Ela
sabe muito bem quando ele tentar disfarçar, já sabe quando ele está de mal
humor e quanto ele fala com o olhar.
Nos
momentos seguintes ela se delicia com suas lembranças daqueles momentos que viveram
juntos. Ela lembra dos dois, ela sentia frio e deixou seus pés embaixo das
pernas dele enquanto bisbilhotavam no computador. Depois de uma conversa com um
e outro amigo, eles se aproximam, os corpos estremecem, os olhos se cruzam, os
rostos se tocam suavemente, sentem a respiração um do outro.
As
mãos entrelaçadas, os corpos se encostam e eles se entregam ao desejo, os
lábios se roçam suavemente, a boca entreaberta, um toque suave, o beijo é
ardente, intenso e provoca um desejo incontrolável. Eles tentam resistir, de
modo quase infantil, sem ao menos entenderem porque estavam agindo assim...
A
porta se fecha, um último olhar. Depois, uma mensagem provocante e uma resposta
de quem está embaraçado. No dia seguinte, apenas conversas profissionais. Como
se nada houvesse acontecido. Eles se encontravam todos os dias, os beijos
roubados se tornam uma marca da relação deles. Pouco se importavam com os
olhares dos outros, eles esqueciam que deviam ser discretos. Mas o desejo era
mais forte...
A
essa altura, a taça de vinho já havia sido substituída por uma big xícara de
chá de hortelã. A madrugada apresentava filmes idiotas, as músicas eram
tediosas. Uma comédia, ela para e pensa em assistir, mas pensar nele era mais
interessante, ela continua escrevendo e navegando por seus pensamentos e
sentimentos...
O
dia está amanhecendo e ela abstraída em seus devaneios...
Amores
possíveis, paixões impossíveis
Parte
II
O
dia amanheceu, ela está absorta em seus compromissos, entre muitas anotações e
uma agenda corrida, toma uma xícara de café e pensa em seu amor. Ela ri sozinha
ao lembrar do jeito atrapalhado e desajeitado de seu amado. Como o amor pode
aproximar duas pessoas tão diferentes? Como duas pessoas tão diferentes podem
ser tão parecidas?
Para
muitas pessoas eles eram parecidos, enquanto ela achava que eram opostos. Ele
identificava as semelhanças que existiam entre eles, talvez sentia-se
incomodado ao ver nela um reflexo dele mesmo. Seria tão evidente o
sentimento que nutriam um pelo outro? Ela acreditava que as pessoas
próximas não percebiam os gestos, os cuidados, os beijos roubados e as
provocações que faziam, procurava tomar cuidado com o olhar, sempre fugia do
olhar dele. Tinha certeza que o olhar os denunciaria.
Muitas
noites eles conversavam até tarde, compartilhavam as angústias do dia, dividiam
situações que vivenciavam juntos, procuravam no outro as respostas para as
dúvidas e o apoio para as tomadas de decisões. Eram parceiros de trabalho,
naquele momento. Dividiam objetivos, propostas e ideais, eram cúmplices e
enamorados. Quando ele estava irritado e mal-humorado, ela era seu porto
seguro, o jeito de falar o deixava mais tranquilo, calmo. Talvez ela fosse
capaz de mostrar que a vida pode ser vivida com mais amor, menos cobrança e
mais leveza.
O
dia passa rapidamente, eles não se encontram. O telefone dela toca. A voz do
outro lado é irritadiça:
_
Onde você está? – Diz ele.
Ela
respira profundamente, já havia mencionado o quanto a irritava esse
questionamento.
_
Na cidade. – Responde ela com certa ironia.
Ele
pede que ela o aguarde, precisa conversar.
Ele
chega, exausto e irritado. Despeja sobre ela todas as angustias do dia e as
irritações. Muitas coisas menores o deixavam irritado. Ela se perguntava se era
imaturidade, ou se ele estava tão sensível que pequenos desencontros do dia a
dia, causavam nele tamanha instabilidade. Como sempre ocorria, ela o acalmou,
mostrou novos ângulos para os problemas trazidos. E horas depois eles riam dele
e daqueles que o haviam irritado tanto. Ela estava feliz, conseguia rapidamente
faze-lo se acalmar, mas não era sempre assim.
No
início, quando ele se irritava ela também se irritava. E eles discutiam
ferrenhamente, desligavam o telefone enquanto o outro falava, gritavam um com o
outro, por pouco não se agrediam fisicamente. Ela lembra de uma situação em que
ele não queria que ela fizesse algo corriqueiro, e para impedi-la de passar
segurou-a pelo braço com tamanha força que deixou uma marca. Ela se irritou e
quase bateu nele, mas foi interrompida por um amigo que perguntou rindo: _
vocês vão chegar as vias de fato? Devo ficar aqui ou querem que eu saia?
Eles
se olharam e riram.
Ela
chega em sua casa, toma um banho quente, a noite está fria. Prepara um
delicioso caldo de legumes, pega uma taça de vinho tinto e vai para sua sala.
Seu fiel confidente, o notebook, já está a sua espera. Ela busca um cobertor
porque a noite está gelada. E começa a escrever um pouco mais sobre a história
deles:
“O
cenário era hipnotizante. O mar verde se encontrava com o azul do céu no
horizonte até onde o olhar não alcançara. A brisa que soprava do mar mantinha o
ambiente agradável e aconchegante. O barco de metal era imponente e altivo,
mantinha-se estático e envolvente, todos percebiam sua grandiosidade. Era um
monumento que representava o poder e se harmonizava com o meio onde se
encontrava. Para alguns uma evolução, para outros um marco negativo tingindo a
beleza daquele cenário estonteante.
O
fato é que o barco de metal, tinha em seu comando um capitão que há muito não
navegava por outros mares, mantinha-se aprisionado como seu barco. A rigidez do
metal, era a mesma do coração de seu capitão. O barco de metal trazia em sua
história disputas, lutas e vitórias. Construir um barco era algo inusitado e
fora um desafio.
O
barco estava desgastado pelo tempo que havia deixado muitas marcas em seu
casco. Na sala de comando, estava seu capitão, que acabara de tirar seu casaco,
e impaciente olhava para suas anotações e afazeres. Um passo no convés o fez
gelar, conhecia aquele caminhar. O sino logo tocou obrigando-o a sair de
seu esconderijo. Foi receber aquela visita irritantemente esperada. Resmungava
baixinho enquanto caminhava, não conseguia entender porque ela era tão
bem-humorada, como aquilo o intrigava. Para evitar se desgastar mais uma vez,
decidiu papaguear sem parar. Ela o observava perguntando-se sobre tamanha
agitação. Eles revezavam momentos de conversas desconexas com silêncio
absoluto, onde a troca de olhares dizia muito mais sobre as emoções que
invadiam aquele convés.
O
barco estava sempre desorganizado e ela rapidamente passava os olhos por sua
volta e se questionava se a bagunça no convés era a mesmo que ele tinha
internamente. Talvez aquele jeito desajeitado, representasse muito mais daquela
personalidade, possessiva. Algo naquele casmurro atraía amigos, parentes,
conhecidos e membros da sociedade, sua personalidade marcante talvez fosse o
decifrar desta proeza. Mas aquela casca grossa não a enganava, atrás daquela
imagem havia uma alma inquieta e um tanto infeliz.
Anos
após anos, o barco de metal despertava a atenção. Ele mesmo muitas vezes,
confundia-se com a data de inauguração de seu barco, que majestosamente rompera
aquele ambiente e se prendera àquele porto e lá ficara. Os dois andares,
imponentes abrigavam inúmeras cabines com espaço para muitos sonhos. Bem
verdade que alguns duravam pouco tempo, outros perseveravam e venciam.
_
quantos anos? Dez? – Perguntou ele em voz alta.
_
Quinze anos. _ lembrou sua interlocutora.
Ela
sabia muito bem quanto tempo aquele barco estava ali, já que sua chegada
provocara em sua vida grandes e marcantes mudanças, quase todas negativas. Como
ela esqueceria o tempo? Ele era um homem jovem, à época da chegada de seu barco
de metal, talvez mais viril e destemido que agora. E certamente não percebera o
impacto que seu barco causara na vizinhança.
Ele
advinha de uma família tradicional e nunca experimentara limitações e
dificuldades, talvez isso limitasse sua percepção. Apesar de manter um modo de
vida simples, gostava da boa mesa, não abria mão de uma cerveja de qualidade.
Viajava anualmente e gostava de bons espetáculos, festas e pequenas reuniões
com amigos escolhidos a dedo. Apesar da vida agitada, refugiava-se sempre em
sua sala secreta, que mandara fazer em seu barco de metal, estrategicamente
próximo da dispensa de alimentos, que o mantinha em seu eufórico ostracismo.
Ela
continuava ali, paralisada. Ele era muito rabugento sob o olhar dela. E tinha
tamanha dificuldade em lidar com quem o contrariava. Ela era uma prova disso.
Quantas vezes haviam discutido severamente, após ela discordar do ponto de
vista dele. Ele não admitia ser contestado, era atroz. A façanha era manter-se
na mais perfeita ordem, dentro de sua habitual desordem. Pequenas mudanças na
rota, causavam-lhe gigantescos dissabores.
Aquela
estrutura tão imponente e garbosa traduzia a robustez daquela alma, considerava
ela. Tinha ele motivo para estar tão agitado aquele dia. Algo incomodava aquele
homem frio e de alma controladora. Aquela nau era um sonho realizado, uma
mudança na rotina dele e na vida daqueles que a circundavam.
A
praia trazia uma nostalgia, por vezes. O mar o atraia e ele desfrutava das
sensações que a água salgada provocava em sua pele. Procurava levar um pouco do
mar consigo, sempre que precisava voltar-se para suas atividades cotidianas. Se
dependesse dele passaria mais tempo no mar.
A
praia, às vezes, parecia morta, sem vida. Alguém falava com ele, as palavras
murmuradas não eram ouvidas. Palavras ditas levadas pelo vento, sentimento
obscuro. Um pensamento deixou seu coração estático, o vento calou-se, a
natureza sem vida, os pássaros não cantavam e o mar não mais murmurava. Ele
sentou-se em frente à praia e ficou esperando que o mar lhe dissesse o que
fazer. Como sairia daquela tormenta?
Voltou
para sua nau, escondeu-se em sua sala secreta e de olhos fechados procurou
respostas para seus sentimentos. O pensamento voava, imaginou-se
caminhando naquela imensidão de mãos dadas... Como alguém conseguira se
infiltrar em sua viagem sem pedir licença deixando seu mar revolto? O coração
em pedaços, cacos de emoção. Um passo em seu convés devolveu-lhe
instantaneamente à vida. Ele sorriu, como se os ventos úmidos do mar, soprassem
uma calmaria fazendo-o renascer.
As
velas altas e robustas do barco cortavam a beleza daquela praia. O sol brando,
reinava. Ele em sua solidão, calado. O inverno soprava, agosto amargo, em seu
coração a infatigável solidão era voraz. O barco estático representava o
magnifico sonho, que ele venerava. A realidade o fazia pressentir que o sonho
que hipnotizava sua alma, seu ser e seu desejo, apesar de leva-lo a momentos
poéticos, era uma ironia. No seu âmago ferve o desejo de sonhar e viver com ela
um inebriante sonho. Quantas vezes sua nau foi cenário de uma noite torrencial
de amor?
Seu
barco tinha um poder de encantar e ele sabia disso. Aquele imenso barco rasgava
as barreiras do tempo e do espaço, suas luzes rompiam a noite escura.
Euforicamente, integrava o sonho e a realidade. Um sonho irreal de um barco de
metal que não navegava por tempestades ou águas calmas.
Ao
navegar e desbravar novos mares, seu coração era traidor que anonimamente
encontrava pretextos para fantasiar novas façanhas. Ardilosamente, ele buscava
em seu emaranhado de sentimentos, encontrar um novo momento para atrair para
seus aposentos aquela que provocara esse desejo de romper novos mares.
Aquele
mar aberto, convidava sua velha nau para uma nova experiência. Uma sinfonia invadiu
lhe a alma, em terra firme lembrou-se do estardalhaço que aquela aventura
promoveria em sua patética vida. Por muitos anos, manteve-se amordaçado em sua
cabine, como uma ostra grudada em uma pedra, que nem o mar revolto era capaz de
move-la. Assombrosamente, aquele imenso barco de metal não fora suficiente para
poupa-lo de tamanha angustia, seu coração transbordava de emoção e tudo que ele
desejava era aniquilar aquele sentimento que estava impiedosamente devastando
seu âmago.
Sua
inquietude foi quebrada por um de seus marujos.
_
Capitão? Pensei que já havia zarpado.
_
Sabe que gosto de apreciar o mar a noite.
Ficou
ele a olhar o mar, vestido de seu jeito desarrumado, enquanto seu marujo saia
para não incomodar seus pensamentos. Ele dirigiu-se as escadas e desceu seus
degraus esperando encontrar em sua sala secreta algo que arrancasse bruscamente
aquele pensamento delirante. Queria dissipar aquela névoa que almejava seu
porto, gelando sua alma. Como era sorrateiro o tal amor? Ele que desdenhou da
paixão, dizendo-se impermeável ao sentimentalismo, agora sentia um espectro
plácido enredando sua vida. Potencialmente causando-lhe o desejo de morrer.
_
Queria beija-la. Até mesmo ama-la.
Continua
sua inspeção pelo convés. Percebe que o casco precisara de reparos, alguns
danos eram vigorosos. Passos na escada em direção a ele. A lua, escondida entre
nuvens, o vento frio e a névoa sobre o mar deixavam o cenário sombrio. As
madeiras da escada rangeram e o vento gélido soprou em seu pescoço,
provocando-lhe um tremor.
_ Estou aqui para resgatá-lo. – Ela chega
intimando.
_
Não preciso de resgate, estou muito bem aqui. Deixe-me. – Diz ele
agressivamente.
_ Sempre gentil, doce como fel. – Responde ela
sorrindo.
_ Estou angustiado e quero ficar só. –
Sentencia ele com uma voz triste.
_
Seja feita assim a sua vontade.
Ele
a leva até a saída, sendo extremamente desagradável, demonstrando toda sua
irritação e desconforto. Ela sabia que ele estava com medo, e de certa forma
divertia-se com isso.
_
Não precisa tanta irritação – disse em tom amável e irônico. Vai
permanecer em sua masmorra?
_
Já estou irritado, você sabe me deixar assim, com maestria. Vou.
Permanecerei
aqui.
Ela
beija-lhe suavemente os lábios, sorri e sai.
A
luz fraca sobre sua mesa, o deixa mais pálido. Percebeu que sua noite seria
longa. Aquele beijo faria parte de sua longa madrugada. Olhou para o céu
tentando encontrar a lua e as estrelas para que aquele momento fosse
rapidamente esquecido. Sentiu-se um covarde, queria tanto aquele beijo e
deixou-a partir. Uma música ao fundo o incomodou.
As
noites tinham seus mistérios, o outono apresentava seus encantos e ele estava inquieto
com seus pensamentos errantes. Ele olhou para o céu nublado e pensou no
beijo que ele tanto queria e que por medo deixou escapar.
Há
anos atrás, ele era um homem forte, tipo atlético que provocava reações nas
mulheres de corpos dourados que se banhavam naquelas praias. A praia em que
mantinha seu barco ancorado, outrora tinha sido muito bem frequentada pela alta
sociedade paulistana. Ele era um jovem de corpo dourado, cabelos cacheados que
estavam sempre desarrumados, vestido com uma bermuda e chinelos, sem camiseta
para mostrar seu corpo bem definido e sempre queimado de sol. Doces lembranças
aquelas.
Fechou
o casaco e olhou para o convés de seu barco de metal.
_
O mar está aqui tão perto e meu barco não pode navegar. Eu a desejo tanto e não
posso avançar...
Ele
parou, na porta de seu escritório, ouviu a música ao longe. Estava muito
perturbado com as suas emoções. Olhou-se no espelho de meio corpo que mantinha
ali, muitas vezes se perguntou o que fazia aquele espelho em seu escritório,
olhou-se e ajustou seu casaco. Sua mesa estava repleta de documentos que
precisavam ser despachados. Ele não conseguia se concentrar. Pensou em ligar
para ela, encontrar uma desculpa e fazê-la voltar. Faria ele um papel ridículo?
E se ela não voltar? _ pensou.
O
medo o fez paralisar.
No
dia seguinte, ele foi para o mar onde se sentia livre e leve. Do mar olhou sua
nau que não podia mover-se, mas demonstrava seu poder, já fora branca agora
estava desgastada, as velas estavam comprometidas e ele estava procurando
coragem para se entregar àquele amor”.
Ela
termina a taça de vinho, o sono chegara.... Um doce de abóbora para completar o
jantar. Fica em seu sofá sentada, olhando os inúmeros canais da TV por
assinatura, nada a agrada. Ela faz um chá de erva doce, para aquecer o corpo e
a alma. Fica pensativa, está com saudades de seu amor. Nos últimos dias ele
anda arredio e ela sem paciência, nesses momentos o melhor é o afastamento. Ela
lê um pouco da história deles, pensa que ao escrever os sentimentos passam a
pertencer aos personagens, será que no fim o amor não mais pertencerá a eles?
Amores
possíveis, paixões Impossíveis
Parte
III
_
O amor, às vezes, nos toma de sobressalto, pensou ela.
Ela
que demorou tanto tempo para perceber que estava amando aquele homem forte, de
olhar frio, mimado e com tamanha dificuldade de assimilar opiniões diferentes
da dele. Um homem tão distante do modelo que ela admirava, sem estilo,
desajeitado e que não se permitia vivenciar algo novo, que o tirasse da zona de
conforto. Não costumava arriscar, ousar ou se permitir ir além daquilo que
tinha desenhado. Seguia seus rituais ficando extremamente irritado quando
precisava fazer qualquer mudança no seu dia a dia.
O
tempo de convivência trouxe alguns conflitos. Algo existia além da natural
implicância. Na verdade, o que poderia haver entre duas pessoas tão
identicamente diferentes? As semelhanças terminavam na teimosia e no mal
humor. Algo intrigante em alguém tão resmungão, que se deixa
influenciar por ações externas. Uma pessoa tão confusamente envolvente e
atraente, apesar de estar fora de qualquer padrão de beleza. Tão frágil
emocionalmente que não consegue dominar suas emoções. Por mais que seu jeito
desarrumado e desajeitado demonstrasse uma certa irreverência, ele era um homem
a moda antiga, cheio de regras e de conceitos preconcebidos.
Essa
descrição demonstra o quão ambíguo é esse homem. E ela que sempre admirou
homens mais velhos e centrados, se via agora completamente envolvida por aquela
pessoa de personalidade controladora, rabugento e irritantemente agitado. Como
ele despertou um sentimento tão intenso?
O
amor chega devagar, não faz alarde. A paixão é fogo, arde, desperta um desejo
incontrolável. Ela se deu conta do quanto estava envolvida numa
sessão de terapia. Resistiu bravamente àquele sentimento, mas o tempo fora
implacável e a fez perceber que era o amor mais genuíno que já sentira. E
decidiu se entregar. Ele continuava apaixonado e agora resistia, temia se
entregar e sair da zona de conforto. Vivenciar algo novo, àquela altura de sua
vida, era impensável para ele.
Ela
percebe que o que sente por aquele ser tão apaixonante, é um amor tão forte,
que não imaginava mais ser capaz de sentir. Não porque desacreditava do amor,
mas porque não se sentia capaz de amar com tanta intensidade. Já havia amado
antes, acabara uma relação recentemente, nada parecido com o que sentia agora.
O medo de viver aquele amor, era paralisante. Os dois se procuravam, se
desejavam e sentiam o mesmo medo. O amor é capaz de romper o medo?
Ela
para, respira profundamente e sente como ele está presente mesmo estando
distante. Ela se volta para a história dos dois, relembra de muitos momentos
que eles viveram juntos, relembra de algumas discussões e enfatiza alguns
aspectos da personalidade dele, tentando entender se esse amor tem alguma
chance.
“Os
olhos pequenos e um olhar apertado, refletiam muito dele. Talvez essa
característica física, já demonstrava o quão fechado e reservado ele era.
Os cabelos desarrumados, a pele bronzeada e o corpo esguio, com a barba por fazer
e a fisionomia sisuda provocavam o desejo de manter a distância, a luz da
sensatez, ninguém se aproximaria daquele que sempre demonstrava tamanho
azedume. O fato é que alguém com tantas amarras cria barreiras intransponíveis
para quem deseja se aproximar. Seria ele assim quando jovem? O que ocorrera ao
longo dos anos, para que ele se tornasse tão frio e inflexível?
Ele
era capaz de uma reação brusca e rude e no momento seguinte, permitia-se um
contato mais íntimo, um abraço, um beijo ou dois. Como se não pudesse ou não
quisesse se deixar levar... para o outro, algo intrigante, que deixava uma
dúvida. Será que algum dia ele avançaria? Talvez não. O tempo da sedução havia
passado. Deixou um doce amargo, um desejo adormecido, um bem querer que não faz
sentido. Uma vontade de estar próximo não atendida. Ele fora tão meigo,
próximo, envolvente e repentinamente se fez tão distante, indiferente e
inconstante. Seria o fim?
Quem
é esse casmurro? Um homem incapaz de se apaixonar, que não acredita que o amor
possa ser vivido após uma certa idade. Para quem se envolver sentimentalmente é
patético, ridículo e infantil. Como se o amor fosse algo matematicamente exato.
O amor é inquietante, quente e desatinado. Não há exatidão no amor. O que não
significa ser infantil, tolo, inconsequente ou ingênuo. Ele pode ser genuíno,
verdadeiro, consciente, responsável, um bem querer que se alimenta da
felicidade do outro, mesmo que não seja ao lado de quem se ama. Amor é um
sentimento intenso, que alimenta e acalenta a alma de quem sente,
independentemente de ser correspondido. Amor não é posse, é querer bem. Amor é
querer a felicidade do outro, amor é sentir, desejar, sorrir, viver sem
cobranças, sem limites, sem amarras. Visto assim, o amor é algo inconcebível
para esse doce casmurro.
Um
falso bilhete dizia:
_
faz tempo que estou de olho em você.
O
dublo sentido daquela fala e tantas outras não fora entendida, perdeu-se o
time. Talvez, a rigidez fosse algo que os aproximava. E a falta de atitude, de
decisão e coragem fizera o implacável tempo definir que o sentimento ficaria
restrito a ser intensamente vivenciado nos desejos ocultos, sem que fosse
realmente vivido.
Irritantemente,
despertava o desejo de matar e o ódio.
_
O amor e o ódio estão sempre lado a lado. Se misturam. – Dizia ele.
Vez
ou outra, era essa a fala capaz de enrubescer e provocar um olhar repleto de
sentimento e desejo... A indecisão estava acima da compreensão, perturbadora e
inquietante, determinava o fracasso daquele sentimento equivocado. Nem sempre
terminava uma frase ou concluía algo. Terrivelmente maçante, sentir um corpo
vibrando e uma obrigação de deixar gostosamente de vivenciar aquele momento
intenso e tenso. Um sorriso quando questionado sobre seu potencial. Uma testa
enrugada e uma graça para evitar o assunto, quase sempre frustrante mesmo para
alguém que não cria expectativas. Impossível não criar uma expectativa após um
beijo.
Arriscar
alguma pergunta a esse respeito? Certamente calar-se-ia. Curioso é que nunca
ouve uma única troca de palavras sobre os beijos, os abraços ou os olhares
trocados. Um certo desconforto paira naquele olhar. A barba grisalha mostra a
passagem do tempo e as marcas naquele rosto demonstram a rigidez da alma que
ali habita.
_vamos
curtir a noite? – Disse ele, convidando para uma bebida.
A
falta de uma resposta arrojada silenciou o desejo.
_
O que aconteceu?
A
história clássica de um querer não correspondido... tudo e nada!
Apesar
de ter viajado por alguns lugares do mundo, vivia na sua caverna. Levava sua
caverna para todos os lugares. Sentia-se protegido dentro de sua caverna, que o
mantinha distante do mundo voraz, dos sentimentos intensos e das tomadas de
decisões. Tão acolhedora sua caverna, onde podia refastelar-se no silêncio de
seus pensamentos inquietantes.
Ao
sair da sua caverna levava consigo a bolha que o mantinha distante do mundo que
passava veloz a sua frente. Ele não queria se expor, correr riscos, mas devia.
Só correndo riscos podemos encontrar a felicidade e quando arriscamos e não
temos êxito encontramos a sabedoria. Quase sempre optava pela estupidez
para se manter distante dos riscos. Assim sua bolha o protegia.
Esse
jeito insensível o mantinha longe de experiências que podiam trazer luz,
alegria, bom humor e carinho para sua vida. Em alguns momentos, era capaz de
gestos carinhosos, de um abraço ou de atravessar uma sala abruptamente para dar
um singelo beijo. No momento seguinte, sua rispidez mantinha distante
qualquer interlocutor. Parecia que algo o angustiava e incomodava seu ser. Por
outro lado tinha tamanha necessidade de ser amado, admirado e querido. Tão
insensato...
A
dura casca do casmurro ser... Algo, em algum momento enrijeceu aquela alma,
tornando-a fria e imaleável. No fundo daquele olhar parecia existir uma dor,
uma certa insatisfação, talvez algum sonho do qual abrira mão... talvez uma
busca por uma felicidade que ele mesmo não acreditava existir. Quase sempre a
irritação era sua maior e melhor companheira. A bolha, a caverna e a casca dura
do casmurro são intransponíveis...
O
que importa é a luz e a alegria que cada um de nós consegue fazer brilhar em si
mesmo... arrisque-se mais... dizer isso para alguém tão rabugento soa como um
desaforo. É muito curioso o quanto esse casmurro se escondia em sua bolha...
Apesar de ter sua caverna invadida por outras pessoas, só permanecia ali
aquelas que não representavam ameaça, que na avaliação dele jamais o
compreenderiam.
Parece
mais certo afirmar que são duas pessoas diferentemente idênticas. Uma diferença
é a vontade de arriscar-se, sem medo e sem pré-conceitos. Na verdade, os dois
sentiam um certo medo do outro. Talvez explicasse a rigidez dos corpos, na
troca de um abraço. Já no campo intelectual as semelhanças eram muitas, tinham
percepções e avaliações parecidas. Uma frieza na análise dos fatos, um olhar
distante para situações que causariam temor em alguns. Para assumir
responsabilidades e riscos profissionais eles se assemelhavam, eram quase
destemidos, ousados e se permitiam, eram duros no embate.
Quando
discordavam dos fatos, a discussão era voraz. Poucos tinham coragem de tomar
partido quando os dois defendiam seus pontos de vista. Era mais cômodo assistir
a distância e aguardar o resultado final, que nem sempre tinha um vitorioso. A
irritação, muitas vezes, dominava a cena, para os expectadores era pura emoção.
Um sabia da importância do outro para que o sucesso acontecesse, mas a
necessidade de espezinhar era maior que a vontade de alcançar os resultados.
Nunca comprometiam o projeto, só tornavam mais emocionante cada etapa.
Às
vezes, a agressividade dava lugar a um gesto de amizade, raramente, de carinho.
Só não durava muito tempo, no momento seguinte a disputa por espaço e liderança
predominava. Eles se digladiavam até um sucumbir ao poder do outro. Sempre
demarcando território e disputando espaço, não porque queriam aparecer mais ou
ser mais importante que o outro, queriam apenas dominar um ao outro. Fosse no
território profissional, pessoal ou sentimental, queriam dominar a relação”.
Ela
toma seu chá, imaginando o que teria acontecido se ela fosse mais ousada, menos
insegura e tivesse se permitido mais... teria ele continuado com suas
investidas?
Amores
possíveis, paixões impossíveis
Parte
IV
O
dia passa rápido, uma agenda agitada a deixa sem tempo para pensar naquela
pessoa que tem provocado grandes mudanças no modo dela ver a vida. Um amor que
bagunça e tira tudo do lugar, acaba com as crenças, quebra os conceitos e
provoca reações inesperadas. Ela chega em casa, toma um banho e vai para
cozinha, prepara um creme de mandioca e vai encontrar seu grande parceiro e
atual confidente, o notebook.
Ela
busca seu sofá, um cobertor, um chá quente. Uma noite chuvosa e de temperatura
baixa. Ela se pergunta o que ele diria se estivesse lendo sua história, estaria
incomodado?
_
Claro, ele estaria irritado, como sempre. – Ela ri.
Passeia
pelos canais da TV, assiste uma série que ela adora, lembra que ele também. Ela
pensa em como ele está e o que estaria fazendo. Sente que mesmo passando dias
sem encontra-lo o sentimento não muda, ela bem que tentou acabar com aquele
amor, mas não consegue deixar de amar... Com o notebook no colo começa a contar
um pouco daquela história.
“Como
ele havia envelhecido, a pele já tinha sinais da idade, uma pele que nunca fora
tratada. Ele era demasiadamente machista para se permitir um cuidado com a
pele, provavelmente nunca havia passado um só hidratante, talvez um protetor
solar, já que vivia tanto tempo no mar. O corpo, que outrora fora musculoso e
forte, agora é frágil. Ele praticava esportes, mas o corpo já demonstrava
certas limitações.
Os
cabelos grisalhos e a pele descuidada denotavam a idade, ele já havia passado
dos 50 anos, estava mais próximo dos 60 anos. E a robustez com que encarava a
vida demonstrava o quanto ele era antiquado. Tudo nele era ambíguo, tão liberal
para algumas coisas e tão retrógado para outras. Uma alma inquieta, um humor
inconstante e uma personalidade marcante e, por vezes, sombria. Ela lembra de
um personagem de desenho animado, que dizia “Oh céus! Oh vida! Oh azar! Isso
não vai dar certo”, era uma boa referência para personalidade dele.
A
vida pesava sobre seus ombros. Ele tinha uma amargura no olhar, como se algo o
fizesse ver a vida com certa reserva. Tinha pequenos rompantes de alegria, mas
logo se fechava em sua casca e se trancava em sua caverna. Quando estava
irritado, se percebia pelo andar, o passo firme, acelerado e a respiração
ofegante alertavam: mantenha uma distância segura. Ele era extremamente
grosseiro e rude quando estava de mal humor, e como quase sempre estava nesse
estágio, o excepcional era encontrá-lo bem-humorado e dócil.
Do
outro lado, estava ela com seu bom humor. É bem verdade, que ele conseguira
provocar momentos de irritabilidade, deixando-a nervosa e impaciente, algo
raro. Ela se questionava do poder que dava aquele homem tão cheio de regras.
_
Por que ele me tira do eixo com tanta facilidade?
Ela
procura entender mais daquela personalidade tão deliciosamente intrigante.
Raramente ele contava um pouco de sua história, quando isso acontecia ela
procurava entender o que se desenhava nas entrelinhas. Como uma pessoa com
olhar tão frio e tanta dificuldade de lhe dar com os próprios sentimentos, pode
provocar no outro tanto amor”?
O
telefone toca, tirando-a de traz da tela do seu notebook. A vida real a chama
de volta e surpreende, a inconfundível voz rude, está serena e doce. Ela sente
um frio na barriga, o coração bate descompassado, fica ansiosa. Ele diz que
precisam conversar e sugere um jantar, ela aceita e fica intrigada com a
motivação.
Um
convite, sem maiores explicações, sem dizer o assunto?
Enquanto
escolhe um look que seja discreto e sedutor, tenta entender o que motivou
aquele convite. Ela escolhe um vestido de seda, uma bela sandália vermelha,
maquiagem suave, quer se sentir sedutora.
_
Preciso de uma bolsa que caiba um pouco das suas emoções e expectativas. Ah,
expectativas! – Ela sorri enquanto se olha no espelho.
Ela
tem como mantra não criar expectativas sobre nada em sua vida. Ela diz que
criar expectativas é um grande risco de sofrimento, quando você entra em uma situação
sem expectativas, a chance de se surpreender positivamente é muito maior.
Ao
encontra-lo, o beijo roubado e um abraço demorado, outro beijo roubado. Parece
que a noite será emocionante. A sensação que ela tem é que ele será mais
objetivo, sairá da zona de conforto, talvez se mostre um pouco mais e se
permita sentir. A conversa é interessante, ele se mostra mais amável e conta
coisas intimas de sua vida, demonstrando que atrás daquela figura fria e
languida, tem um coração que sente e uma dor que deixa uma nuvem cinza sobre
ele. Algo mais, tem atrás daquela casca dura e quase intransponível, que
momentaneamente se abre e deixa transparecer fragmentos de alguém apaixonado.
Ele
toca as mãos dela suavemente e a olha fixamente. Ela sente um arrepio percorrer
todo seu corpo, por um instante pensa que seria melhor estar refugiada atrás da
tela de seu computador, apenas criando essa cena, do que estar ali. Como ela
que tanto desejou viver aquele momento, estava tão estranhamente incomodada e
com tanto medo? Ela respira profundamente e se concentra na conversa, conta um
pouco de sua história, se expõe contando fatos que sempre manteve oculto. Eles
mostram um outro lado, como se estivessem fazendo um pacto, mostrando um pouco de
sua intimidade para o outro.
O
jantar termina, na despedida, outro beijo roubado. E a certeza dela de que ele
avançaria, fica no beijo roubado. Ela entra em seu carro e segue seu caminho,
pensando até quando vai controlar aquele desejo tão ardente que sente por ele.
Ele
vai embora pensando como pode ter sido tão covarde, ter deixado mais uma
oportunidade única passar... Ele a deseja tanto e sempre fica travado,
amedrontado e inseguro.
_
Inseguro mesmo... Pensou ele.
Ao
chegar em casa, ela não resiste a uma deliciosa caixa de chocolate, 70% cacau,
é claro. E se aninha em seu sofá, pega seu notebook e vai escrever sobre os
dois.
Ela
começa pensando no amor que sente, no quanto é angustiante aquela indecisão
dele. O que o deixa preso naquela caverna que ela não consegue adentrar?
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte V
O
dia promete, eles devem passar o dia todo juntos, muitos compromissos
profissionais. Ela está segura, parece mais decidida. Ele chega do mesmo jeito
de sempre, irritadiço. É tão cedo e ele já está no mal humor de todos os dias.
Ela pensa como será o dia com ele tão irritado. Tenta abstrair o incomodo,
percebe que não será nada fácil e que seus planos podem ir por água a baixo.
Ela
se refugia atrás da tela de seu inseparável notebook. E deixa extravasar sua
emoção.
“Clara,
acorda decidida a tomar as rédeas daquela história.
_
Só você pode dar cor nessa história morna e que está em preto e branco. Coragem!
– Diz olhando no espelho.
Clara
se veste lindamente, usa uma bela calça flare preta, camisa branca e um lindo
colar vermelho, sapato de salto alto e uma maquiagem leve, sempre usa batom
natural.
_
Clara, Clara esse batom é uma tática para não deixar evidente os beijos
roubados... – Pensa em voz alta enquanto termina a maquiagem.
Quando
ela percebe que ele está chegando, seu coração dispara, sente um frio na
barriga, o sangue parece gelar. A sensação é desconfortável e deliciosamente
apavorante. Tenta disfarçar sua ansiedade e anular seu corpo que insiste em
estremecer.
Ele
entra na sala e a fita ao longe, Clara se mantem distante, ao menos aos olhos
dele.
_
Bom dia! – Fala com um tom severo
_
Bom dia! – Responde Clara sem tirar os olhos do computador.
_Você
não vai nem olhar para me cumprimentar? O computador é mais interessante ou é
pura falta de educação mesmo?
_
As duas coisas. Você chega despejando gentileza e espera ser recebido com
beijos.
_
Exatamente! _ diz ele enquanto se dirige até ela.
Ele
se abaixa e rouba-lhe um beijo. Ela olha para ele e sorri timidamente.
Ela
levanta e o abraça carinhosamente, ele corresponde ao abraço e os dois se
beijam ardentemente. Se olham e com toda cumplicidade exigida para o momento,
Clara pega sua bolsa e os dois saem juntos, decidem viver aquele momento, se
entregar a paixão. Entram no carro e vão para casa dela. O desejo é tanto que começam
a se beijar ainda no carro, entram derrubando os bibelôs da mesa de centro da
sala. Se jogam no sofá, as peças de roupas começam a cair pelo chão. A cada
movimento os dois se olham intensamente e se beijam ardentemente.
Clara
percorre com as mãos as costas dele, sente o gosto de mar que a pele dele trás.
Beija lentamente a nuca, escorrega os lábios vagarosamente até a orelha, dá um
beijo suave, encosta o corpo que está ardente de desejo, nas costas dele, a
respiração é ofegante.
Ele
se vira para ela, tira a camiseta lentamente e a envolve em seus braços, a
beija. Os lábios macios dela o deixam em transe, ela toca os lábios dele com a
língua. Ele corresponde, passando a língua pelos lábios dela, a boca
entreaberta espera que ela o beije. Uma mordida suave no canto dos lábios dele,
provoca um sussurro. As mãos entrelaçadas se apertam e o olhos estão com um
brilho apaixonante.
Clara
abre lentamente a camisa, mostrando seu corpo, ele se deleita com cada botão
que vê sendo aberto. Ela tem um olhar desejoso e tímido. Ele a traz para junto
de seu corpo, e lentamente retira a camisa, o cheiro doce do perfume dela, o
deixa embriagado de prazer. Ele a beija lentamente e percorre com os lábios o
rosto e o pescoço dela, provocando ainda mais desejo. Desce lentamente, os
lábios pelos ombros e vai percorrendo o corpo, beijando-a suavemente,
arrancando-lhe arrepios e reações que a fazem estremecer. Os corpos
entrelaçados, seminus se encaixam perfeitamente. Ela passa o pé pela perna dele
enquanto ele retira o cabelo dela do rosto e a olha fixamente.
O
olhar deixa o desejo pujante e os beijos mais ardentes, eles vão para o quarto,
os sapatos ficam pelo caminho. Ela abre lentamente o zíper da calça e a deixa
cair, a lingerie preta o deixa mais encantado, ela se aninha na cama, como um
felina e ele não perde um único gesto dela. Os corpos se tocam, as mãos se
procuram, ele retira toda a roupa de Clara, e passeia pelo corpo sentindo o cheiro
doce daquela pele macia.
Ela
o acarinha maliciosamente, os dois se entregam ao prazer. Os corpos se
movimentam bruscamente, lentamente, intensamente, delicadamente, com toda
energia e força. E quando ela foge dele, ele a pega como um leão buscando sua
presa e depois a solta para ver a reação, ela é a felina e ele a presa. O jogo
de poder que acontece entre eles, se faz presente na cama.
E
a disputa pelo prazer e pelo poder é intensa. Eles alcançam o ápice do prazer,
os corpos suados e relaxados ficam lado a lado, ele a abraça aninhando-a em seu
peito.
Ela
sorri, ainda sob o êxtase do prazer. Ele quer manter o poder.
Ele
entra na sala e a fita ao longe, Clara se mantem distante, ao menos aos olhos
dele, que se abaixa e rouba-lhe um beijo. Ela olha e sorri timidamente. O
silêncio que só eles ouviam é rompido pelos compromissos do dia. Clara fecha
seu computador, deixando nas páginas os sonhos que espera viver com ele.
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte VI
Como
é difícil entender aquele casmurro ser. Clara acredita que ele vai romper o
medo e se entregar àquele sentimento que os une e os afasta. Ela não
entende como fora capaz de amar tanto, de desejar tanto...
_
Parece castigo, acreditei que nunca mais amaria alguém assim. _ Diz Clara
em voz alta.
Ela
escolhe uma roupa, pensa em algo que a deixe sensual, apesar da inconstância
dele procura sempre surpreendê-lo. Aquele sentimento estava por deixa-la sem
rumo, como se todas suas crenças fossem derrubadas.
Ela
segue para o trabalho, algumas mudanças de plano a deixam sozinha por horas.
“Será
que em algum momento aquele barco de metal desbravaria o recife do medo? O amor
é capaz de vencer barreiras, mas seria suficiente para ele lutar pelo que
sente?
Um
homem preso as amarras de seus conceitos e preconceitos, que não se permite,
dificilmente viveria um amor tórrido.
Gum,
o casmurro capitão daquele barco que não zarpava havia muito tempo de seu
porto, não seria capaz de arriscar-se e desbravar novos mares”
O
tempo é curto e logo, Clara é interrompida e chamada para realidade.
A
paixão é uma fase que passa e muda tudo abruptamente, aquele desejo ardente,
aquela sensação mágica de que estar ao lado do outro é o suficiente para ser
feliz, muda. Já o amor ele completa, é um bem querer sem cobranças, sem desejo
de monopolizar o outro. Ele entendia o amor como uma relação onde havia
um dominante, ele, e o dominado, no caso a Clara. Só que nesse caso o dominado
não precisava tanto do outro, como desejava o dominador, que estava sempre
insatisfeito, desejava ter suas vontades atendidas e tinha um lado narcisista
que precisava ser idolatrado. Gum não percebia que o dominador se tornava
obsessivo e que a postura de domínio dele provocava uma asfixia em Clara.
Naquele
momento, a relação deles enfrentava uma tormenta. Clara, o desejava por tudo
aquilo que ele não era e por tudo que ele representava de novo para ela. Gum a
desejava, talvez, por ela estar perto demais e por saber que outros também a
desejavam. Será que Gum estava apenas exercitando seu lado de macho alfa?
Clara
deveria aniquilar aquele sentimento e partir para outros mares. Ela sabia que tinham
outros olhares que a cobiçavam, não fazia sentido ficar parada naquele porto,
esperando que aquele capitão do barco que não zarpava, tomasse uma decisão.
Clara,
sai para almoçar com Gum. Eles estão acompanhados de um amigo, o comportamento
dos dois é de casal, todos diziam isso, que se comportavam como um casal, só
que não eram exatamente um casal. Eram duas pessoas que lutavam contra seus
medos e inseguranças, tentando sufocar os sentimentos, desejos e amor que
alimentavam um pelo outro. O orgulho vencia.
“Nesses
momentos de dúvida, ele saia para o mar. Ali encontrava conforto e quietude
para suas angustias, aquele contato homem-natureza, o acalmava. Ele sempre
gostou da simplicidade da vida. Os cabelos grisalhos e o rosto fino, um tanto
flácido e cinzento carregavam as sombras das tormentas que ele trazia em seu
amago. Apesar do corpo dar sinais de sua idade, tinha uma presença robusta e
ereta, o olhar amargo, a aparência desleixada, as rugas e sulcos, os cabelos
despenteados e as roupas que ele vestia, demonstravam que o tempo havia
passado.
Ele
desejava beija-la ardente e efusivamente. Ela era a mulher que ele desejava.
_
Como quero tê-la em meus braços... – Diz em voz alta.
_
Quem você quer em seus braços? – pergunta Clara, que chega deixando Gum atônito.
_
Não vi você chegando, o que aconteceu?
_
Você não respondeu minha pergunta. – Diz Clara, olhando fixamente para Gum.
_
Não sei do que você está falando. Se veio até aqui é porque precisa conversar
sobre alguma coisa, o que é?
Clara
sorri e diz:
_
Claro, você quando se sente acuado reage sempre da mesma forma.
Gum
a olha e pensa em resolver aquele desejo. – Vou esquecer todas as minhas
frustrações do passado e me entregar. As velas do barco batem com o vento
que sopra, provocando um arrepio pelo corpo dele. Ele sentiu muito medo, ficou
paralisado.
Clara
o admirava, percebendo que havia um sofrimento, uma guerra interna em
andamento.
_
Sabe o que quero?
_
Não, mas adoraria saber. _ responde Clara.
_
Quero...
Gum
se aproxima de Clara, toca seu rosto levemente e a beija ardentemente.
Os
dois se entregam ao desejo...
_
Não sei mais como fazer. É maçante a minha tentativa de esconder o que desejo,
quando acordo, lembro de você. Quando me deito a noite, lembro de você. Pobre
de mim, que sofro calado e que sinto tanto desejo. E me obrigo a manter as
aparências.
_
Quero gritar para todos que a amo.
Um
som alto no convés, rompeu o sonho dele. Ao longe, ele fitou aqueles olhos
admiráveis e felizes que percorreram seu corpo até encontrar com os olhos
pequenos e apertados. Eles se abraçaram e Gum rouba-lhe um beijo. Ela ri
gostosamente e o abraça novamente.
_
Você é o resmungão mais adorável que conheço. – Diz rindo e brincando com ele.
_
Devo dizer que tem quem goste.
_Sério?
Quem?
_
Você... – Diz Gum”.
Clara
olha para sala e o silencia a toca profundamente, ela se senta defronte de seu
notebook e pensa em reescrever aquela história de amor, que naquele momento
está mais para desamor.
O
difícil quando se ama é perceber que a relação chegara ao fim, a dor da ruptura
é tão grande quanto a dor do desamor... Não há culpados. Uma ruptura pode ser o
início de momentos felizes, não antes de uma boa dose de sofrimento. Podem duas
pessoas estarem predestinadas uma para outra? Pode o amor vencer o orgulho e as
barreiras internas de alguém cheio de amarras?
Não
sei responder, só sei que amo... Como são doces os beijos roubados.
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte
VII
No
cenário, o barco de metal, estático em seu porto, num emaranhado de emoções e
com pesadas ancoras que o mantem paralisado, Gum está prostrado em seu convés,
buscando respostas para suas angustias.
O
amor é composto por 3 elementos: eu, ele e nós. Para que exista amor, tem que
haver o “nós”, os sonhos sonhados juntos, os desejos que caminham para algum lugar
que seja bom para os dois.
“Gum
sorriu e passou a mão pelo rosto. Clara o admira, mesmo sorrindo ele
demonstrava uma tristeza em seu olhar, uma nuvem cinza parecia acompanha-lo por
toda a parte. Ele olhou para Clara como se quisesse dizer algo importante. Mas
isso ele não conseguiu. Logo saiu em fuga.
Clara
sorriu percebendo as emoções que provoca em Gum, mas logo ficara séria e com
olhos tristes ao ver que ele sofria com medo que sentia e o aprisionava.
_
Por que você não solta as amarras? – perguntou ela.
_
Não sei do que você está falando. Não sei o que espera que eu responda. – Disse
Gum irritadiço.
_
Quero que diga o que está sentindo, que tal?
_
Não sei o que dizer. – respondeu ele nitidamente tenso.
_
Não sabe?
_
Não, não sei o que dizer. Clara eu...
Ela
olhou nos olhos dele e se aproximou, colocando suas mãos sobre o coração dele e
dizendo:
_
Acalme-se! Apenas sinta e deixe acontecer.
Gum
respirou profundamente, a olhou abraçou fortemente.
_
Você sabe o que sinto por você, só não sei como fazer.
_
Gum, meu querido! Apenas diga o que sente, comece me falando o que sente.
_
Já falei e você me ignorou.
_
Era outra situação, você sabe disso. – respondeu Clara, com certa indignação.
_
Naquele momento estava apaixonado, inebriado e encorajado. Agora, o que sinto é
muito diferente. Naquele momento eu sabia exatamente o que esperar daquele
sentimento.
_
Agora não sabe se sente mais?
_
Sei que sinto algo muito diferente. Não é paixão. Tenho medo, porque não
entendo o que sinto. Tenho medo de ficar ridículo, bobo e inconsequente. Tenho
medo da dor.
_
Você está com medo de viver algo tão belo?
_
Belo? Como você sabe que é belo?
_
Você tem razão, não sei. Também não sentia algo assim, desde os meus 20 e
poucos anos. O que sei é que sinto com intensidade e sem medo.
_
Sou covarde, quero fugir do que estou sentindo. Tenho medo de me entregar a
você e depois sofrer.
_
E agora você não está sofrendo?
_
Sim, sofro muito por não poder gritar para todos que...
_
Que?
_
Você sabe, Clara. Você sabe.
_
Gum, eu também...
Os
dois se olham e são abruptamente interrompidos por um desavisado que chega para
uma inútil conversa com Gum, o capitão daquela nau”.
Assim
é o amor... complexo, intenso e entre Clara e Gum, tenso. Por que tem que ser
assim? É um querer sem fim... ela se questionava de como podia amar
intensamente aquele homem rustico e mal-educado, agressivo e desenxabido.
A
paixão é assim, desejo pelo outro, sem que exista a intenção de se estabelecer
um relacionamento duradouro. O amor pode começar com uma paixão, mas vai além.
O amor vem com um desejo de construir o “nós”, isso amedrontava Gum, porque ele
não sabia o que era amar. Ele sempre fora uma pessoa individualista e esse
desejo compartilhado era algo novo para Gum.
Não
há vida sem dor, e para alguns a felicidade é um instante de prazer, um momento
sem dor. O amor leva à dor, ao sofrimento, quando você não é correspondido, a
ausência de ter aquilo que se ama, traz um vazio que promove o sofrimento. Não
viver o amor pode evitar a dor, mas a dor é a ausência da felicidade, do desejo
alcançado e o amor é o caminho para se alcançar a felicidade e se ter alguém
para construir o “nós”.
Clara
estava cansada daquela caminhada, Gum parecia incapaz de vencer suas amarras,
sair de sua caverna, estourar a bolha e viver o amor, mesmo que fossem para ter
apenas alguns momentos de prazer ou de ausência de dor...
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte
VIII
Quando
se ama o tempo parece não passar – pensava Clara ao caminhar pela praia. A
praia estava vazia ampliando o volume de seu inquietante pensamento.
_
O amor deveria ser algo que só traz prazer e quando não correspondido, deveria
ser simples o “desamar” – diz Clara em voz alta, desabafando com ela mesma.
Para
alguns o amor é tão fatal e dilacerante que só provoca dor e sofrimento. Não
existe um único amor, para a vida toda. Todos deveriam aprender que se o amor
não dá certo, parte-se para outro relacionamento, sem tamanho sofrimento.
Gum
estava em seu barco, no calabouço encurralado pelos seus sentimentos. Ele fugia
do que sentia e deseja não encontrar Clara. Queria se fortalecer para lutar
contra aquele sentimento que o faria estourar sua bolha, romper suas amordaças
e sair da sua zona de conforto.
_
Se a Clara tivesse correspondido as minhas investidas no passado seria tudo
mais fácil. Agora com esse sentimento que me tira o ar, me torna incapaz de
raciocinar, parece castigo, ela é o meu castigo.
Gum
vai para o mar, procura nas ondas repor suas energias. Clara recarrega suas
energias caminhando pela areia. Ela sente um vazio n’alma. Ele uma angústia
sufocante. Como pode o amor provocar tamanha desordem na vida de duas pessoas
que se amam?
“Os
dois se encontram. Clara estava caminhando quando vê Gum sair do mar, os dois
se olham e se aproximam... Gum estava molhado, a pele salgada pela água do mar,
ele segura levemente na mão de Clara e a puxa delicadamente, ela sente a pele
molhada dele em seu corpo aquecido pelo sol. Ele a olha e a cumprimenta com um
suave beijo no canto esquerdo da boca.
A
respiração dele está ofegante, Clara fica paralisada, esperando que ele vá além
daquele beijo roubado. Ele espera que ela fuja. Gum a abraça, sente o cheiro
doce da pele dela, respira profundamente, sente que o corpo dela está entregue
a ele. Ele toca o cabelo de Clara, a água que escorre dos cabelos dele,
percorre as costas dela provocando um arrepio. O estremecer do corpo dela o faz
vibrar.
A
boca de Gum toca suavemente a nuca de Clara, enquanto ela passa as mãos pelas
costas dele. Ela toca a orelha dele com os lábios, provocando-o. A boca entre
aberta procura pela boca dela, os lábios se tocam com força. Ele morde
delicadamente os lábios dela, ela suga os lábios dele, ele toca com a ponta da
língua os lábios de Clara, ela responde deixando que sua língua toque a dele. O
beijo é ardente. As mãos se apertam, demonstrando o tamanho do desejo que
existe entre eles.
Gum
a convida para ir até sua casa, eles seguem juntos, lado a lado. Ele a convida
para tomar um banho relaxante, ela aceita. A água quente do chuveiro esquenta
ainda mais o clima de desejo. Ele passa o sabonete pelas costas dela, enquanto
a beija. Os corpos nus, se enroscam, ela se vira para ele e olha nos olhos. Um
diálogo sem palavras, apenas olhares e movimentos.
O
movimento dos corpos refletido no vidro do box, a pele arrepiada, a respiração,
o gosto do outro. Clara e Gum saem do banho e vão para o quarto, é a primeira
vez que ela vai a casa dele. Tudo parece estranho para ela. Eles se beijam
defronte ao espelho, as toalhas caem no chão, eles se beijam ardentemente. Gum
toca o rosto de Clara, a beija e deixa que sua boca percorra todo o corpo dela,
beijando, mordiscando e passando a língua suavemente pela pele de Clara. Ele se
delicia com os movimentos de prazer que provoca, enquanto se deleita no desenho
daquele corpo.
Clara
passa as unhas, suavemente, pelas costas de Gum. Entrelaça suas pernas nas
dele. Ela retribui as caricias, e passeia pelo corpo dele, com beijos e
pequenos toques com a ponta da língua. Ele se contorce de prazer. Os dois se
olham e ela concede a ele o direito de tê-la. Ele a obedece, e a toma para si,
os corpos entram num frenético movimento rítmico. Há uma energia pulsante, que
os faz vibrar na mesma sintonia. O vai e vem dos corpos, os gemidos, as bocas
se procuram, os olhares e as frase ditas entre eles, testemunham momentos do
mais profundo prazer.
Eles
se entregam ao desejo, se amam ardentemente... encontram o êxtase. Os corpos
caídos na cama, exauridos pelo prazer. Ele a busca para perto de si, a abraça e
surpreendentemente diz:
_
Quero você.
Clara
fica sem entender o que, exatamente, significa aquele querer. Ele a beija com o
mesmo desejo de antes daqueles tórridos momentos de prazer. Ela nem consegue
pensar sobre o que estava acontecendo. Ele a toma em seus braços e a beija.
Clara sente que o amor é inebriante. Gum se surpreende com tanto desejo, ele já
não era mais um jovem, como aquela mulher podia provocar tamanha disposição?
Eles
permanecem na cama, se acariciando, beijando, desejando e amando. A amanhã
passa rapidamente sem que eles saiam do quarto, uma única e rápida escapadela
para trazer um suco e frutas para repor as energias gastas. Clara olha para
ele, e vê que apesar da idade e da forma física ele a atrai. Naquele quarto Gum
é outro homem, apaixonado, entregue, viril e apaixonante.
Ele
também a contempla, vê que apesar das imperfeições naturais a uma mulher com
mais de 40 anos, elas ainda mantem um corpo que atrai olhares e o desejo dele.
_
O que vamos fazer? _ pergunta Gum
_
Como assim?
_
Como vamos fazer com tudo isso que está acontecendo? – Explica Gum.
_
Vamos viver intensamente. _ Responde Clara”.
Clara
olha para o mar e tem a certeza que está preparada para tudo. Gum deixa o mar
focado nos afazeres do dia...
A
vida segue seu rumo, cada um com seus pensamentos errantes, com seus desejos ocultos
e com muitos desencontros. O amor, um dia venceria aquela intransponível
barreira do medo... Apesar da dor que provoca no outro, ele traz uma felicidade
que só pode vir do momento de entrega ao tão temido amor...
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte IX
Gum
aproximou-se da janela para ver a manhã invadir sua sala ampla e envidraçada.
Encostou a cabeça no vidro e respirou profundamente, o ar da manhã fria
encheu-lhe as narinas. Sentia-se exausto...
Poucas
pessoas eram confiáveis e ele não tinha com quem dividir suas angustias. O
vizinho que morava na casa ao lado apareceu em sua janela e também contemplava
o amanhecer, Gum acenou e se recolheu para seu universo interior que estava
borbulhando.
Tempos
atrás havia ali uma vida mais agitada e animada, sempre rodeada de amigos.
Olhou para trás e viu que a mesa de jantar agora estava repleta de objetos em
total desordem. Pensou: - Minha casa é um reflexo de meu mundo interior, a
desordem interna está impressa na desorganização de cada ambiente.
Contemplou
sua sala e percebeu que o caos havia se instalado. Como era possível suportar
tamanha desordem? Foi para o banho, momento de introspecção. Enquanto a água
percorria seu corpo naquela fria manhã, seu pensamento estava distante.
Refletia sobre sua vida, suas escolhas, suas amizades, seus relacionamentos e
sua inércia diante de situações incômodas. No entanto, já vivia aquela rotina e
havia acomodado-se.
O
amor sempre traz um colorido para a vida, e ele agradecia por ter recebido tal
benção. Divertia-se com as lembranças dos encontros que teve com Clara.
Considerava-se um privilegiado, apesar de tudo que estava passando.
Mantinha
um relacionamento muito próximo com sua família, apesar da distância. As
relações humanas são complexas e a dependência e controle sobre os movimentos
do outro nunca são saudáveis. Já não sabia medir o tempo, talvez acontecesse há
muito tempo. As mudanças acontecem, tudo se modifica, pensou. No momento
seguinte, deu-se conta de que nada mudara.
Desejava
viver intensamente, sentir sua alma pulsar, seu corpo vibrar, seu coração
disparar, mas a inquietude de sua alma não era suficiente para que tomasse as
rédeas de sua vida. Vivia um ciclo vicioso de dependência e co-dependência de
suas crenças, parecia incapaz de realizar qualquer movimento para mudar aquela
trajetória. O caminho traçado era o caminho a ser seguido, mesmo que não o
levasse a plenitude e quietude que tanto buscava.
Agora
era o momento de decidir, sair em busca de sua felicidade ou permanecer naquela
história plagiada de um conto, que não o fazia feliz? Voltou-se para seus
pensamentos, que o mantinham distante. Não encontrava nada que retratasse
melhor o sentimento dele do que as linda palavras de Camões: “Amor é fogo que
arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente”...
A
prisão invisível que o mantinha no calabouço de seu barco, era assustadora
quando vivenciada no dia-a-dia, passava pelas coisas mais corriqueiras da
rotina diária às questões mais complexas. Era doentio, sintomático e assustador
para quem assistia do lado de fora da janela de vidro.
Aquele
pseudo controle o impedira de vivenciar o amor que estava sentindo. A
insegurança e dificuldade de tomar decisões, que bem ou mal, era um mecanismo
de defesa não fora eficiente, poupando-lhe de amar e sofrer. Não sabia ao certo
como tudo começara, mas estava vivendo uma história confusa e apaixonante. Com
muito carinho, desejo e um amor que Gum desconhecia.
Uma
inquietude sobre o futuro daquela relação estava deixando aquele doce casmurro
com o coração em cacos. Acabara algumas vezes, por imposição das suas crenças,
não que desejasse, mas não queria se machucar, deixando de vivenciar com Clara
tudo o que imaginava em seus mais secretos sonhos.
O
medo de amar o fazia sentir como se faltasse uma parte de si. Sabia o quanto
desejava alguns momentos de cumplicidade, amizade, carinho e muito prazer. As
afinidades existiam, o cheiro da pele dela o hipnotizava, o olhar, os beijos
que ele roubava, o calor daquele corpo quando tocava o seu o fazia desejar
intensamente eternizar cada momento. Mais o toque do telefone o trouxe para a
realidade, no momento mais feliz do seu dia, no calor da intimidade dos seus
sonhos. Por mais que desejasse se entregar aquele amor, não conseguia se livras
de suas correntes.
A
onipresença daquela mulher em seus pensamentos o incomodava. Ele se sentia
vigiado pelos seus próprios pensamentos. Clara, em sua casa pensava no último
encontro deles e nos tórridos momentos de prazer que viveram. Gum seguiu com
seu carro para o trabalho, durante todo o seu trajeto Clara esteve presente, o
deixando tenso. O que causava estranheza era a embriagues dele, o aceite sem
questionamentos, como permitia aquela invasão em seus pensamentos? Para Gum,
era uma coleira mental, era o poder que Clara exercia sobre ele.
Chegou
em seu barco de metal, analisou cada objeto espalhado pelo seu escritório. Há
tantos anos convivia com aqueles móveis e naquela ambiência que não sabia mais
avaliar onde sua história começara. Antes cada detalhe, cada objeto conhecido o
fazia relembrar um momento, uma viagem, uma surpresa... Agora, eram apenas
objetos espalhados desordenadamente e que não remetiam a nenhuma lembrança, nem
doce, nem amarga, apenas o vazio...
Clara
pensa no amor por aquele homem tão diferente dela. Como ela se envolveu com
alguém tão controlador, tão teimoso, tão cheio de limitações e com crenças que
o aprisionam? Depois de tantos anos, ela se via amando novamente. Um amor tão
confuso e instável que a desafiava. Clara sentia seu coração disparar e um frio
no estomago, sempre que se aproximava de Gum, logo ela tão segura de si,
sucumbindo a emoção. Era uma prova de que a mente não controla o corpo, como
gostaria. Clara mesmo amando mantinha certa frieza racional, nem parecia uma
mulher que desejava ardentemente, que era romântica e sonhadora. Ela relembra
do momento em que ele tira sua camisa e fica inebriado de prazer ao sentir o
cheiro de sua pele.
Gum
se questionava de como o amor podia ser tão avassalador e tomar conta de sua
vida e de todos os momentos de seu dia. O que disparava esse sentimento tão
orgânico e astuto? _ Ela me complementa, o que falta em mim encontro na Clara:
bom humor, otimismo e felicidade... O que encontro nela é o que busco encontrar
para equilibrar minha vida.
A
intensidade do amor entre Clara e Gum, promove uma fusão, como um só ser. Amor
é êxtase, que aniquila a individualidade e é capaz de dissolver as amarras que
aprisionam Gum, na sua própria caverna. Vivenciar uma experiência libertadora
de um amor intenso, permitindo que todas as loucuras da paixão se apoderem
dessa história, deixando de lado a vergonha que impede o florescimento do amor
é um desafio que pode modificar radicalmente o destino dos dois.
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte X
Gum
continua com seus pensamentos, intrigado com seus sentimentos. Clara do outro
lado da cidade se questiona sobre a intensidade do seu amor. Habitualmente, o
amor faz ver qualidades no outro, que só o olhar amoroso identifica. A
tendência é melhorar radicalmente a pessoa amada, e muitas vezes, comete-se o
grave erro de moldar o outro aos próprios valores. Clara sempre achou melhor
mostrar o pior de si, se a pessoa permanecesse seria brindada com o seu melhor.
É da essência humana condenar tudo o que desagrada no outro, transformando-o,
desconsiderando a singularidade da pessoa.
Gum,
com seu jeito autoritário, nunca havia feito críticas ferrenhas ao estilo de
Clara, apesar dela ser tão diferente dele. Clara da mesma forma, sempre
respeitou a falta de estilo e o jeito rústico de Gum, o que fortalecia a
vitalidade do relacionamento. O amor deles não tinha qualquer pretensão de
exercer opressão sobre o outro, não pedia nada, não exigia mudanças de nenhuma
das partes.
“O
mar está agitado e Gum senta na praia e observa. Ele entendia como poucos os movimentos
do mar. Quando olha para o lado vê uma sombra, se assusta, o coração dispara,
sente um frio no estomago, é Clara. Ela senta ao lado dele e o olha com
admiração.
_
Gosto de ver a sua relação com o mar.
_
Ele me traz muitas respostas e me equilibra. – Responde Gum.
_
E qual pergunta você lançou para o mar? – Indaga Clara.
Gum
sorri e respira profundamente, pensando o que dizer para Clara.
_
O que ele me disse? Disse para arriscar mais...
_
Uau! E você vai ouvir?
Gum
toca suavemente na mão de Clara, retira os cabelos do rosto e beija o ombro
dela. Clara olha com ternura para Gum. Os dois se olham e se procuram, Gum
percorre o ombro com os lábios entre aberto, em direção ao pescoço. Clara com a
respiração ofegante, move o corpo em direção ao dele, os dois se deitam
lentamente na areia, o vento gélido provoca arrepios, mas o calor do desejo
aquece os corpos. Ele toca os lábios dela, passando a língua lentamente. Ela
recebe o toque dele, mordendo os próprios lábios impulsionada pelo desejo. Os
lábios entreabertos de Clara recebem a língua de Gum, que encontra a dela e
eles se beijam efusivamente
Os
dois não resistem ao desejo, a praia deserta é o cenário ideal para aquele
momento de amor. Eles se entregam... A areia, os movimentos frenéticos dos
corpos, os beijos... aquele homem forte e rústico, consegue ser tão amoroso e
gentil nos momentos mais íntimos.
Eles
seguem para casa de Clara, Gum a pega pela cintura e a encosta na parede,
beijando-a fortemente. Ela entrelaça suas pernas pela cintura dele, enquanto se
beijam loucamente. Os corpos estão desejosos e sentem o calor daquela paixão
ardente. O olhar de Gum é de ternura e medo, Clara tem a sensação de que ele
não sabe se é capaz de proporcionar o prazer que ela espera, apesar dos outros
encontros que já haviam ocorrido. Ela faz um afago nos cabelos dele, como se
fosse para acalentar e o abraça fortemente. Ele à solta lentamente, Clara
percebe que ele está confuso e que perdeu o desejo. Sem dizer nada, o segura
pelas mãos e o leva até a sala.
Gum
está atônito, cabisbaixo e com a voz embargada.
_
Me perdoe. – Diz ele.
_
Perdoar por quê? – Responde Clara.
_
Senti medo.
Clara
esboça uma fala e Gum interfere.
_
Senti medo de não te dar prazer, medo de não conseguir dizer o que sinto, medo
de não ser capaz de viver esse sentimento. Medo, esse é o meu maior problema.
_
Meu querido, meu amor... não sofra antecipadamente. Não estou te pedindo para
tomar nenhuma decisão. Entendo o seu medo, respeito o seu tempo. O que sinto
por você não vai acabar assim. É algo intenso, único e mágico. Amo-te.
_
Clara, sabe que tenho vontade de gritar que também, amo-te. Mas, para assumir
esse sentimento tenho tantas gavetas para arrumar, decisões para tomar.
Clara
se aproxima, beija suavemente sua face, aperta suas mãos e o abraça. Gum
respira profundamente, olha para ela e encosta o rosto no dela, com os olhos
fechados, sente o rosto de Clara, a respiração quente que sai pelas narinas de
Gum provoca pequenos arrepios, ele toca com lábios os olhos de Clara, com
pequenos beijos vai perfazendo todo seu rosto, até encontrar sua boca.
Gum
beija a boca sedenta de Clara. Com os lábios molhados, o beijo suave, a
respiração vai ganhando ritmo acelerado, ele encosta o corpo no dela e a leva
para traz, deitando-a no sofá. Os beijos são vagarosos, as bocas se tocam e se
afastam, entre um beijo e outro eles se olham como se buscassem a aprovação,
estabelecendo uma cumplicidade. Ele toca os cabelos dela. Ela passa as mãos
pelo tórax dele, sente o coração disparado. Gum está com corpo sobre o dela,
ele passa a mão pelo seu rosto tirando o cabelo e a olha fixamente. A mão de
Gum, desce lentamente pelo pescoço de Clara, enquanto a boca beija a orelha.
Ele abre calmamente o primeiro botão da camisa dela, e passa o dedo pelo colo
até o limite do decote. Clara crava suas mãos nas costas de Gum, e sobe
arranhando suave e vagarosamente, provocando um arrepio. Os pés de Clara, sobem
pelas pernas dele. Ele beija o pescoço, o colo os seios de Clara. Vai retirando
a camisa dela, e a cada parte de corpo desnudo ele beija com a boca entreaberta
como se a sugasse.
Ela
retira a camiseta dele e sente o inconfundível cheiro de mar que ele carrega em
sua pele. Gum apoia seu corpo sobre o dela, há uma troca de energia, de calor e
de desejo. Ele retira o sutiã e admira os seios de Clara, tocando-os com as
mãos. Gum segue percorrendo o corpo de Clara com os lábios entreabertos
provocando reações. Ela beija suavemente os ombros dele e percorre com lábios o
pescoço, passando pela orelha e chega até a boca. Clara, rapidamente se coloca
sobre Gum, e devolve as caricias, passeia pelo corpo dele, tocando-o com as
mãos e com os lábios, proporcionando-lhe prazer.
Ele
delicadamente toma Clara para si, os corpos estão intimamente interligados,
promovendo movimentos que começam lentos e ganham ritmo, os corpos estão
colados. Clara está sobre Gum, ele pode beija-la e o faz. Agora é Gum quem está
sobre Clara, e ele a olha como se olhasse uma presa, exerce seu domínio,
mantendo movimentos mais rápidos e outros não. Ele procura nos olhos dela o
prazer que está proporcionando ao mesmo tempo que vivencia o próprio prazer.
Gum,
está decidido a mostrar que é o dominador, assim coloca seu corpo atrás do
corpo de Clara, a segura fortemente pelos cabelos e a toca, beija as costas
dela e a toma para si dominando-a. Novamente, ele alterna movimentos intensos e
outros mais lentos, levando-a ao êxtase, ele mesmo já não consegue mais
controlar seu desejo e os dois como numa perfeita simbiose, soltam gemidos de
puro prazer. Gum a abraça. Ele sempre a leva para junto de seu corpo, após o
ápice do desejo, algo incomum para um homem.
Depois
de um demorado banho, Clara ressurge. Ele a espera ainda de roupão, eles estão
no quarto dela e conversam como não faziam há muito tempo. Ele está mais leve,
o rosto menos tenso e mais disponível. Ela o ouve atentamente. Os dois,
demonstram toda a sinergia que existe, são cumplices em muitas coisas. Ele
busca um certo conforto nas palavras de estimulo de Clara, para vencer questões
corriqueiras, que tem lhe tirado a paz.
Depois
de algum tempo decidem sair para almoçar juntos. Seguem no mesmo carro, algo
diferente para eles, no caminho ele diz que foi maravilhoso tudo o que
aconteceu, que está feliz e pleno e que... Gum não consegue dizer o que sente,
ele tem um bloqueio, uma necessidade de fugir do sentimento. Clara ainda não
conseguiu entender o motivo, mas ela está cada vez mais decidida a decifrar
esse enigma. E ele parece estar cada vez mais propenso a se entregar ao
sentimento que provoca tantos questionamentos”.
Uma
relação amorosa é uma experiência que exige entrega, abdicação de alguns
conceitos e concessões mutuas. O amor é um ajuste do que se espera com as
qualidades do outro, Clara e Gum, valorizavam tudo o que apreciavam no outro e
respeitavam as diferenças, já que eram tão diferentemente idênticos. Essa
disposição era fundamental para que o amor frutificasse, a intensidade do amor
provoca uma síntese da qual brota um só ser, rompendo a barreira da
individualidade e empoderando os entes amorosos para a construção de uma nova
vida, conferindo novos significados e dissolvendo a subjetividade que
aprisiona.
O
amor vai tomando forma e mudando vidas, Clara e Gum, se tornariam um só ser?
Apesar de amar Gum e de valorizar os momentos de prazer com ele, Clara trazia em
seu amago um emaranhado de dúvidas, tinha a certeza de que não conhecera todas
as facetas dele.
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte XI
Tem
um momento na vida que é necessário se reencontrar. Clara estava reflexiva, não
sabia se seguiria por aquele caminho. Vivenciar um amor pela metade é pior do
que não viver. Gum transitava entre o amor e suas amarras, deixando Clara
incomodada. O amor deve ser vivido na sua integralidade, não pode ser vivido em
doses homeopáticas. Amor é amor, um sentimento orgânico e inteiro, que não pode
ser fragmentado. Amor é a fusão de dois indivíduos que geram um ser singular,
uma vida em comunhão, um desejo único.
O
amor é assombroso, chega e muda tudo de lugar, dá novos significados para vida,
promove uma erupção de emoções, transforma a realidade circundante e dissolve a
individualidade. Clara vivenciava emoções tão dispares ao lado de Gum, às
vezes, transitando entre o mais límpido amor e o mais amargo rancor.
“A
lua alta iluminava a noite de inverno, as estrelas cintilavam no céu, o frio
era um convite para estar à dois, mas Clara estava só. A linda lua cheia
iluminava o jardim da casa, o vento gélido trazia a tristeza, deixando o
sentimento letárgico. O amor é assim, a falta de reciprocidade enrijece a alma
e deixa um vazio por tudo aquilo que não se viveu.
_
A dor do amor não vivido é mais angustiante do que a dor de um rompimento.
Quando algo já experimentado acaba, dói, mas amar algo que você não vivenciou
dói infinitamente mais. Assim o desejo é deixar de amar... deixar a alma serena
e dissipar o amor. – Pensou Clara.
Ela
volta para dentro de sua casa, esperando que o calor do seu lar aqueça-lhe a
alma. O coração está num impasse entre o amor sentido e a dor, vive no limiar
da aflição. Clara fora imprudente, descobriu-se amando um homem tão
ironicamente distante de tudo que ela sempre admirou, apenas a inteligência se
encaixava no enredo das escolhas feitas por ela no passado. Amar com a
intensidade que amava, alguém tão intimamente desconhecido, como fora possível?
Ela
se encantou pelas semelhanças e diferenças, pelo jeito rustico, pelo cheiro de
mar que ele carregava em sua pele, pelos cabelos grisalhos, pelo caminhar
desajeitado e principalmente pela alma dura e inquieta.
Para
Clara, o barco de metal era a prisão de Gum, representava algo de obscuro em
sua alma. A desorganização de sua vida, a falta de atitude em situações
que geravam conflitos, demonstrava a inércia. Tão conflitante a personalidade
dele, que era impossível decifrar.
Só
que o amor precisa ser alimentado, em alguns momentos, o sofrimento que Clara
insistia em não viver, aniquilava sua alma, se instalava em seu âmago sem pedir
licença. Aquela noite estava sendo cruelmente dura, fria e triste. Talvez tenha
compreendido que tudo o que Gum tinha para oferecer era nada perto do amor que
sentia. Mais de vinte anos sem revisitar o tal amor e quando reencontra é algo
tão sorrateiro e capaz de arrancar palpitações que dilaceram a alma.
Angustiada,
solitária e amando ardentemente, Clara seguia experimentando seu conflitante
sentimento. O que ansiava era viver novos momentos de cumplicidade, entrega e
desejo ao lado de Gum, mas algo infringia esse enredo, fazendo-a tropegar na
dura e impiedosa realidade.
Como
é inusitado o desejo, a solidão que sentimos por alguém que está perto é muito
mais avassaladora. É um querer que não pode ser alcançado, é estar tão perto e
longe da felicidade que se vive à dois. Alguns momentos de prazer são
insuficientes para conter o pranto. O desejo é andrajo, vil e ingrato quando solitariamente
vivido na fantasia amorosa.
Naquela
tarde, Clara olhou para Gum e sentiu que algo havia mudado, ele estava mais
leve, solto e bem-humorado. As atitudes sempre tão previsíveis dele,
demonstravam que tinha encontrado um refúgio amoroso, que estava explorando um
novo horizonte do qual Clara não era personagem.
A
intensidade de um sentimento não é a mesma para cada um dos envolvidos.
Ele que sempre permanecia horas em seu navio avistando o mar, agora
estava muito mais em terra firme desbravando o asfalto e mudando seu ritmo de
vida para experimentar algo. Como poderia ele ter esquecido os tórridos
momentos de amor e entrega que viveram juntos? Havia ele trocado Clara por uma
nova história? O coração dela dizia que sim. As preocupações dele eram de
quem tinha algo a esconder, ao mesmo tempo ele evidenciava para Clara que algo
havia mudado, fazendo-a perceber que o estava perdendo. A dor dilacerava o
coração, fazendo-a sucumbir ao desejo de aniquilar aquele amor desproporcional
e que a obrigava a experimentar o sofrimento tão incomum em sua vida.
Viver
o amor é aceitar a realidade, nem sempre de uma existência feliz, muitas vezes
o inevitável e contraditório, ressignifica a vida e o amor, promovendo uma
trágica experiência. Clara sofre ao lembrar do olhar de Gum que desvendou o
desejo dele por outra, o sorriso fácil, o corpo mais relaxado, evidenciava a
leveza de sua alma.
_
Como o corpo diz muito do que sentimos, Gum estava diferente, talvez ele não
perceba como os sinais demonstram seu desejo...
_ Fala Clara em voz alta”.
Todos
sabem que o amor é parte da trajetória da vida. Que se experimenta várias
formas de amar ao longo da jornada, que nunca haverá um amor como outro. O amor
assim como a morte, são presenças certas na caminhada e nunca alguém estará
preparado para encara-los. O amor não vivido provoca uma dor pujante que só é
abstraída quando se alcança o desejado, desamor.
Parecia
que o fim estava próximo, Clara sempre dizia não ter vocação para o sofrimento.
Estava ela decidida a findar com sua angustia, queria se despir daquele amor.
Sabia que deveria cumprir um ritual, deixar o amor agonizar e morrer, depois
leva-lo para o crematório e jogar as cinzas ao vento, para que nunca mais fosse
capaz de reencontra-lo. Apesar da dramaticidade do momento, Clara procurava
equilibrar seus sentimentos, estava decidida, queria varrer Gum de seu coração
e de sua vida, definitivamente.
As
intuições devem ser seguidas, elas dizem muito e quase sempre quando não se
valoriza os sinais dados pela vida a decepção é certa... talvez, Gum estivesse
vivenciando a loucura de uma nova paixão, e sem a vergonha que o impedia de
deixar florescer seu sentimento por Clara, estava investido de alegria e
empoderado pelo sentimento disposto a construir uma nova história de vida. Gum
se transformava quando apaixonado, Clara já havia vivenciando um outro momento
em que ele tinha se encantado por outra pessoa. A imersão na paixão era muito
mais corriqueira do que a vivencia do amor, que sempre provocará modificações
no outro. A paixão é intensa e fugaz, talvez muito mais simples de ser
experimentada por Gum.
Clara
acorda, começa a organizar seu dia e decide que mudará o rumo da sua história
com Gum...
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte XII
Gum está inquieto, Clara o deixa naturalmente
irritado, ele está aprisionado em seu barco de metal, que continua estático no
porto. Ela percebe que algo está acontecendo, ele está diferente, parece mais
distante em alguns momentos, noutros a conforta em seu braços e rouba-lhe um
beijo, inesperadamente.
Ele reclama sempre que ela se atrasa
para qualquer compromisso, como se ele nunca a deixasse esperando. Ela reclama
das respostas incompletas, da demora para responder uma mensagem, assim eles
vivem implicando um com o outro, como adolescentes.
Para Clara, Gum estava se envolvendo em
outra história, o que deixava um vazio enorme e uma dor com a qual ela não
sabia conviver. Ele fazia insinuações, como se desejasse ser indagado sobre um
possível envolvimento com outra pessoa. Ele queria magoa-la, estava apaixonado
ou estava fugindo do que sentia?
Clara chega ao imutável barco de metal,
desgastado pelo tempo. Ele não a cumprimenta e como se estivesse apressado
senta-se atras de sua mesa, como se fosse um escudo, ela sorri e diz que ele
deveria ser educado, então ele a cumprimenta, Clara é irônica. A conversa gera
em torno de assuntos do dia-a-dia, questões corriqueiros e alguns assuntos de
trabalho que estavam pendentes. Em certo momento ele se descontrola, como
sempre que algo o desagrada.
_ Você me irrita mais do que qualquer
outra pessoa. – Sentencia Gum.
_ Fico feliz em saber, porque você
também é a pessoa que mais me irrita na fase da terra. -Diz Clara, sorrindo.
Ela estava decidida a ter, pela primeira
vez, uma conversa sobre o que havia acontecido no passado entre eles, falar do
que sentia e entender o que estava acontecendo, mas Gum estava decidido a não
enfrentar aquele assunto. Fez tudo o que pode para fugir da conversa. Num certo
momento, ela simplesmente desistiu.
Ela deixa o barco de metal, pensa muito
sobre aquela conversa insana, e decide mandar uma mensagem falando sobre o
assunto. Ele fica em silêncio e diz que conversarão na próxima semana com
tempo. Clara pensa que esse tempo é o grande problema.
Na semana seguinte, eles estão no barco
de metal e muitos assuntos são tratados, os dois fogem do assunto. Clara está
cansada e ele se sente aliviado. Na despedida ele a abraça e ela é distante.
Parece que algo os impede de viverem toda aquela emoção que é percebida pelos
que estão a volta, e que por vezes, eles tentam aniquilar. Os dois são
covardes.
Clara toma uma decisão, deixará a porta
do coração aberta. Quem sabe um novo ocupante, menos confuso e irritante... No
momento seguinte, uma mensagem em seu celular, é de Gum que a convida para tomar
um vinho, quanto tempo eles não fazem um programa como esse. Por um instante,
ela pensa em recusar, mas aceita o convite inesperado.
Eles vão para um restaurante, comem uma
massa e tomam vinho. Na saída ele para e a olha com ternura, se aproxima e a
abraça. Clara se aninha naquele abraço e ele percebe que ela se entrega. As
bocas se procuram, se tocam suavemente. Eles seguem para casa dela. Ele mostra
uma garrafa de vinho, sorrindo.
_ Deixei no carro, achei que teríamos a
oportunidade de saborear mais uma garrafa. – Diz Gum.
_ Mais uma?
_ Vamos aproveitar a noite, vamos nos
divertir.
_ Prefiro curtir a noite e me divertir
sóbria. – Responde Clara.
_ Eu quero curtir você. – Fala Gum,
enquanto a abraça e beija.
Os dois se beijam ardentemente, os
corpos se ajustam um ao outro, os gostos se misturam. O clima é de romance
entre eles. Gum, com seu jeito rude se transforma nos momentos de intimidade.
Ele a olha com ternura, a beija lentamente e passeia pelo corpo dela, com
suaves toques.
Clara se entrega aos carinhos de Gum,
entre eles existe uma sintonia harmoniosa. O amor e o sexo, fluem. Os beijos
são ardentes, os corpos se entrelaçam, o desejo é latente. Eles se entregam ao
amor. Gum a toma em seus braços e a leva para o quarto. Busca as taças de
vinho. Ele para na porta e observa Clara na cama. Ela está numa linda camisola
vermelha, que o deixa sem ar.
_ Você está inebriante, meu amor.
_ É para você.
_ Clara, você está me fazendo arriscar.
_ Estou te fazendo viver.
Ele sorri e se junta a ela. Clara o
abraça e arranha suavemente as costas de Gum, que sente um arrepio percorrendo
seu corpo. Ela se coloca atras dele e beija o pescoço enquanto suas mãos o
ajudam a tirar a camisa. Ela toca suavemente a orelha dele e percorre o ombro e
pescoço com beijos. Ele se permite sentir cada toque dela, Clara se volta
para ele, o abraça levando seu corpo, obrigando-o a deitar. Ela retira a calça
de Gum, com toda delicadeza e com carinhos e beijos percorre o corpo dele, que
se entrega.
Gum a abraça e a coloca deitada e a
beija ardentemente. Ele vai desnudando Clara, com carinho e pequenos toques na
pele macia dela. Ele desce a alça da camisola de Clara, enquanto beija se colo
e percorre com os lábios molhados de desejo seus seios. Ele a segura com uma
força na medida certa, evidenciando seu desejo. Depois percorre o corpo de
Clara com os lábios, entre beijos e pequenas mordidas, ele a tortura de prazer.
Gum se deleita com os arrepios e gemidos
de Clara, ao receber seus beijos e caricias. Ele a olha e a boca semiaberta
dela recebe a dele, as línguas se procuram, se enroscam. As mãos entrelaçadas
se apertam, os corpos estão prontos para o prazer, se tornam um só ser. Os
movimentos são rítmicos, eles já sabem como dar prazer ao outro. A entrega é
absoluta, Gum a deixa em êxtase. Ela se entrega a ele, que demonstra o quanto
está envolvido e deixa seu corpo receber o de Clara. Os dois chegam ao ápice do
prazer. Gum, surpreendentemente, sempre a toma para si depois do sexo.
Eles tomam banho juntos, e voltam para
cama, ficam entrelaçados e assim adormecem. Na manhã seguinte, Clara o desperta
com muitos beijos e uma linda bandeja de café da manhã. Ele se surpreende por
ter dormido tão profundamente, fora de sua casa. Gum sempre dizia ter uma
grande dificuldade de dormir em outra cama que não a sua. Clara estava
realmente, fazendo com que Gum saísse de sua zona de conforto.
O dia começou com mais algumas horas de
prazer e entrega... Seria uma nova fase do amor de Clara e Gum?
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte XIII
Um bilhete de Clara para Gum...
Quero
você, simples assim...
Quero
você integralmente, com todos os seus dramas.
Quero
que você solte suas amarras, assim como os botões da minha blusa.
Que
você se permita viver intensamente, como me permita te beijar ardentemente.
Vivenciar
momentos alegres e viver momentos de prazer comigo.
Ser
mais livre e me deixar te prender entre minhas pernas.
Se
soltar e deixar minha língua tocar a sua...
Me
deixar te seduzir, como você me envolveu um dia.
Se
perder em mim, como já me perdi em você...
Me
deixar colocar em prática tudo o que escrevi de nós dois.
Sentir
o quanto você é amado e desejado por mim, sabendo o que dizer, sem medo.
Dizer
sim, ao invés de dizer, que não sabe o que dizer...
Responder
positivamente àquele convite, sem risos como resposta...
Voltar
a ser alguém amoroso, carinhoso e parceiro, sem que eu te peça para ser gentil.
Responder
com um abraço apertado e um beijo molhado, quando me encontrar, como outrora.
Deixar
seu corpo tocar o meu, sentir prazer e me dar prazer.
Quero
sentir suas mãos no meu corpo, meu corpo no seu.
Minha
boca na sua e sua língua na minha.
Quero
que um hambúrguer ou pizza comigo, seja mais interessante que um churrasco com
o time de futebol.
Quero
adentrar na sua caverna e tirar o seu barco do estaleiro.
Que
você leia, outra vez, um “bilhete” dizendo que está interessado em mim.
Diga
que a noite está agradável para ser aproveitada comigo.
Quero,
desejo e amo você... A resposta não pode ser um simples “não sei”...
Você
sabe o que responder...
Bilhete de Gum para Clara
Tentei
tantas vezes me aproximar e você sempre se fez de desentendida.
Sentia
medo de me declarar, de dizer o quanto te amava.
Sabe
quantas vezes senti aquele frio na barriga?
Você
sempre tão dona de si, mandona, querendo me dominar...
Eu
imaginei como seria estar em seus braços, como seria ter suas pernas envolvendo
minha cintura.
Quantas
noites suspirei por ter seu corpo colocado no meu.
Quero
você, mas tenho medo de sofrer ou de fazer você sofrer, não quero viver algo
que não está ao alcance de minhas mãos, você sabe o que quero dizer, não é?
Aquela
tarde que passamos juntos, aquele beijo que roubei de você, seus pés sob minhas
pernas provocavam arrepios pelo meu corpo.
Minha
vontade era de te amar, mostrar meu desejo, mas seu jeito me deixava inseguro.
Quero
você outra vez, sinto falta do seu cheiro, do seu sorriso, do seu olhar...
Quero
te abraçar e te amar loucamente, sentir seu toque...
Vem
me ver, me tocar, me amar...
Quero
sentir sua boca na minha, percorrer com os lábios seu corpo, beijar-te...
Nossos
corpos entregues ao desejo, sentir sua respiração ofegante, me deliciar com os
arrepios que provoco em seu corpo quando passo os lábios na sua pele.
Quero
te amar intensamente, quero sentir você, te dar prazer
Quero
você, simples assim
Quero
gritar para o mundo que te amo.
Não
ouse ignorar meu bilhete, porque vou te procurar, te buscar e te envolver em
meus braços, te prender entre minhas pernas e te amar loucamente.
Você
sabe o que dizer...
Estou
te esperando... Continuo te esperando...
Gum
Amores possíveis, paixões impossíveis
Parte XIV
Depois de
tantos momentos de tórrido amor, cumplicidade e desejo. Clara se refugia em seu
quarto e se esconde atrás da tela de seu inseparável notebook. Gum está em seu
esconderijo, em seu barco de metal. Apesar da distância os pensamentos se
encontram e os torturam.
Gum pensa
como pode ser tão covarde, como pode ter tanto medo daquela mulher marcante,
forte e sedutora. Clara, pensa como pode se envolver com aquele homem
desajeitado, medroso e tão sedutor.
Ele está
deitado em seu velho sofá, pensando que poderia ter feito muito mais, amado
mais, se entregado mais e vivido algo inédito em sua vida monótona. Ela pensa
que deveria ter sido menos arrogante, menos tola e mais decidida. Quantas vezes
se esquivou das investidas dele.
Gum pensa
que deveria ter sido objetivo e não ter dando tantas indiretas. Deveria tê-la
beijado, quantas oportunidades perdidas. Clara, imagina como teria sido se ela
tivesse se entregado desde o primeiro beijo roubado...
Os dois se
dão conta de que um ano se passou e eles viveram um amor tórrido, repleto de
momentos intensos, de corpos suados, de ternura, tensão e desejo, sem que Gum
deixasse seu barco e metal e Clara seu notebook. Os dois escreveram juntos,
viveram juntos o mais intenso amor de suas vidas, sem que nunca tivessem
ultrapassado o beijo roubado. Dois covardes, que deixaram de vivenciar um amor
único por medo de vencerem suas barreiras.
O amor, às
vezes, é vencido pelo medo, pela inércia. Viveram tudo intensamente, apenas em
seus devaneios. Conseguiram viver juntos uma linda história de amor, sem nunca
terem vivenciado um único momento de prazer real. Em seu quarto Clara teve Gum
em seus braços, o amou intensamente, as noites de prazer foram intensas. E Gum
em seu barco de metal teve Clara em seus braços, a amou com todo seu desejo,
força e sentimento.
Na
realidade, Clara nunca esteve no barco de metal dele e Gum nunca esteve no
quarto dela. Mas a conexão dos dois sempre foi tão forte, que na manhã seguinte
quando se falavam, se encontravam, eles reviviam cada momento da noite anterior
juntos, apenas pela troca de olhares. Ele tinha certeza que ela havia estado
lá, era capaz de sentir o perfume dela em sua roupa. Clara, acordava com o
cheiro de mar dele em suas narinas.
Aquele foi
o último dia... Clara e Gum decidiram viver no mundo real, e nele a covardia
deles era impedimento para viverem aquele amor... Ele entrou em sua caverna e
lá permaneceu, hibernando por longos meses, até que uma nova pessoa o tirasse de
sua casca e o levasse para o mundo real. Ela seguiu seu caminho, encontrou
outro alguém e começou uma história real....
A pergunta
que ficou é o que os impediu de viver um amor assim?
Bom, a
resposta não tenho, mas gostaria muito de saber... E você o que acha?
Pensando
bem, relendo e relembrando de cada momento vivido com Gum, penso que um dia,
talvez, eles vivam essa história para valer... Ou será que os dois precisaram
passar por isso, para se permitirem viver novos amores? Provavelmente, já que ambos
tinham imensa dificuldade de amar...
Gum parece
que encontrou um novo amor e Clara... Bom, a Clara continua a procura de um
amor...
Claudia
Paschoal
23
de abril de 2019
01:16 h
(Último
capítulo de Clara e Gum)